Crítica sobre o filme "Conspiração e Poder":

Rubens Ewald Filho
Conspiração e Poder Por Rubens Ewald Filho
| Data: 28/06/2016

Os americanos tem umas coisas esquisitas difíceis de entender. Ano passado eles fizeram dois filmes com temas semelhantes, basicamente fazendo o louvor da imprensa norte-americana. Um deles foi super badalado e acabou ate mesmo ganhando o Oscar de melhor filme, Spotlight (que nunca me convenceu em particular na sua pouco convincente denúncia dos padres pedófilos). O outro foi este que teve uma fraca carreira de bilheteria e acabou sendo rejeitado por todos, apesar do ótimo elenco e de tratar de um caso polêmico acontecido nos bastidores de uma televisão, no caso envolvendo um lendário jornalista chamado Dan Rather, num conflito que praticamente encerrou a carreira de um muito respeitado jornalista/âncora. E que encerrou sua carreira na CBS, acusado de ter manchado propositalmente a carreira do presidente George W. Bush (o que para nos brasileiro seria impossível de fazer, já que ele mesmo se encarregou de fazer isso sozinho!).

Parte do fracasso certamente se deve aos republicanos, mas também ao diretor que na verdade estreia no ramo, já que tem uma longa carreira como roteirista. Entre eles, Zodíaco, O Espetacular Homem Aranha, o novo Independence Day 3 (anunciado para depois do ainda inédito 2). E outros menos notáveis como o terror No Calor da Noite, Violação de Conduta, o horrível Bem-vindo a Selva, o ignorado Os Perdedores, O Ataque (à Casa Branca). Ou seja, já da para ver que não é nenhum gênio. E aqui meteu os pés pelas mãos.

Falta suspense, clima, falta aproveitar melhor o elenco muito interessante, já que ele consegue deixar neutra a normalmente magnífica Cate Blanchett (ela interpreta Ms Mape, assistente e pessoa de confiança do ancora) e tornou Robert Redford uma figura apagada e sem o velho carisma.

O titulo original, ou seja Verdade, seria muito sugestivo (será que não falta uma interrogação?), mas o assunto é um pouco distante demais em tempo e espaço para o espectador brasileiro. E não tem o impacto de um docudrama. O clímax aconteceu em 8 de setembro de 2004, quando apresentaram o episódio do programa 60 Minutos II, que alegava que as conexões familiares de Bush, facilitaram o fato dele não ser convocado para lutar no Vietnã e ele foi apenas servir na Texas Air National Guard. Mas o problema foi que não conseguiram papeis que provassem que Bush tivesse sido relaxado e incompetente, nesse período. E Mr. Ratherman saiu do seu posto de âncora do canal.

No filme não ficamos sabendo das convicções políticas dos envolvidos e Mr. Rather parece um bom sujeito mas sem brilho ou profundidade. Porque a ênfase esta em Ms Mape que em 2005 escreveu o livro Truth and Duty, the Press, The President, and the privilege of Power, que serviu de base para o filme. O filme faz questão de pintá-la como uma profissional competente e incansável, que não merecia o descrédito pelo próprio pai. Na verdade é a própria estrutura do noticiário numa TV que é o ponto mais frágil e criticável de todo o filme. E o problema é simples: o filme não viaja bem, nem para os americanos interessou, quanto mais para a gente que vive no momento crises muito mais intensas e discutíveis do que esta intriga entre milionários jornalistas e políticos de valor duvidoso.