O diretor santista/brasileiro Afonso Poyart, teve a inteligência de fazer um filme nacional, Dois Coelhos, 2012, que mesmo sem ter o sucesso de bilheteria que merecia, lhe serviu como introdução ao mercado internacional como demonstração de seu talento. Seu “book”. E o resultado por enquanto é este brilhante thriller rodado em Atlanta, Georgia (parece que com algumas cenas feitas em São Paulo), que ele exibiu no Festival de Veneza, e que infelizmente não teve ainda repercussão que merecia no mercado americano. Com a ajuda de um montador nacional, Lucas Gonzaga, ele já tem dois outros filmes em diferentes formas de produção (o nacional Mais Forte que o Mundo com Cléo Pires e o anunciado Calypso com Débora Secco).
É um prazer ver novamente em forma Anthony Hopkins (depois de Noé e Thor) como um homem que tem o dom da premonição. John Clancy, que é chamado por um velho amigo policial (Jeffrey Dean Morgan, que parece ter passado por um banho de loja e virou galã!) para ajudá-lo a resolver uma série complicada de crimes, assassinatos de diferentes teores onde a vitima é geralmente atingida nas costas abaixo da nuca. Também faz parte da investigação uma agente do FBI, Katherine, vivida pela bela australiana Abbie Cornish. Mas não pensem que é mais uma série de TV, aqui a direção é extremamente criativa, ágil e porque não dizer inteligente.
Sou tentado a não contar muita coisa porque o filme foi me passando as informações e surpreendendo quando na mais ou menos da primeira hora ficamos sabendo das razões do assassino (já sabemos que ele é interpretado pelo Colin Farrell, pela evidência de que está em destaque no cartaz!). Mas as cenas de ação são muito bem executadas e depois de mais 10 minutos finalmente Colin entra em cena, mas a trama fica ainda mais complicada e densa. De uma certa maneira me lembrando o quebra-cabeça da atual série de Sherlock Holmes (que por sinal admiro muito).
Hopkins assina até como produtor executivo e tem um de seus grandes momentos de discrição, de jamais cair em qualquer exagero (e como tem o dom de prever, as vezes há um truque na manga do diretor ou roteiristas!). E Colin não fica atrás. Ele acabou se tornando um ator muito interessante, versátil, mas especialmente ameaçador como vilão.
Há uma surpresa atrás da outra, num thriller empolgante e certamente um dos melhores que um brasileiro já fez no exterior, junto com Meirelles (O Jardineiro Fiel), Babenco (Ironweed), Walter Salles (Diários de Motocicleta). Tomara mais gente o descubra.