Crítica sobre o filme "Filho de Saul":

Rubens Ewald Filho
Filho de Saul Por Rubens Ewald Filho
| Data: 16/02/2016

Está em cartaz finalmente o filme que todo mundo aponta como o vencedor do próximo Oscar de filme estrangeiro, inclusive por dar uma nova visão sobre o tema favorito da Academia (que é o holocausto) confirmado pelos muitos prêmios que foi amealhando pelo mundo começando por Cannes (Grande Prêmio do Júri, critica, mais dois), Globo de Ouro, Chicago, Dallas, Denver, Georgia. Houston, Indiana, críticos de Los Angeles, National Board of Review, Críticos de Nova York, North Texas, Palm Springs, Texas, Sarajevo, Santa Barbara, Seattle, Southwestern, Estocolmo, Washington, Zagreb, Critic´s Choice. Foi finalista na Mostra de São Paulo mas não ganhou.

Há outra razão para o filme ser tão favorito, os rivais são relativamente fracos. O dinamarquês A War, é um drama de guerra no Afeganistão que parece ter vontade de ser filme norte- americano, Cinco Graças, o turco-francês que esta em cartaz, é feminino mas não especialmente notável. Não conheço o filme colombiano Embrance of the Serpent e Theeb da Jordânia é um filme árabe (dos Emirados Árabes) sobre garoto beduíno durante a Primeira Guerra Mundial que faz viagem no deserto para ajudar oficial inglês em missão secreta. Ou seja, o nosso Que Horas ela Volta? bem podia e merecia dar um fôlego nesta lista tão indigesta.

É preciso prevenir o espectador apenas curioso que Filho de Saul é um difícil e sufocante. E na sessão que assisti houve os que saíram no meio. Tem se falado que o filme foi rodado em uma proporção quase quadrada. Na verdade, não é bem assim. O formato é o usado pelo cinema até a virada dos anos 1950 quando entra o Scope e o Panorâmico. Então a história que se passa em 1944, se tivesse sida contada naquela época teria sido nessa proporção (o mais curioso é que o filme sofre de um recurso que me aflige é contar toda a história pelo ponto de vista de uma nuca. Ou seja, segue, melhor dizendo persegue por trás , o protagonista que mais obscurece a imagem de tal maneira que quase nunca vemos o que realmente está acontecendo. Ou seja, ela cobre a visão das vitimas que foram mortas, estão sendo agora descartadas, dificulta a compreensão. Mas é bom para o ator que é um escritor amador e mantém a mesma expressão trágica todo o filme).

Enfim, a dificuldade de acontecer o que está sucedendo é parte da proposta do diretor estreante, que elege como protagonista o Saul Auslander, que tem a macabra missão de mesmo sendo prisioneiro de campo de concentração de Auschwitz, 1944, com data marcada para morrer, tem que ajudar os nazistas a administrar os recém chegados encaminhando-os para o banho da morte. Só que uma das vitimas, que custou a morrer, é um rapazinho que Saul insiste que é seu filho e será mistério não resolvido, já que varias vezes é dito que ele não teria filho. Na verdade, essa não é a questão, porque ele ficou obcecado em honrar essa vitima e procura obsessivamente a ajuda de um rabino que possa lhe dar o banho ritual e rezar a prece que lhe daria paz e redenção. E então caminha de um lugar para outro, humilhado pelos oficiais, incompreendido pelos colegas, desafiando a morte que de qualquer forma será inevitável. Há até uma tentativa de revolta e rebelião, mesmo fuga, em que ele vai se envolver.

Talvez porque o espectador fique meio no escuro, sem muitas explicações, é que o filme impressiona mais, até pela ausência de muitas explicações inclusive até o final. E se diferencie tanto de outros trabalhos sobre o mesmo tema. E não dá o espectador o menor respiro, ou momento de resgate, ou concessão ao heroísmo. A tragédia é aquela e pronto. O espectador vira uma testemunha consciente de um ato vil que o diretor resgata de uma possível banalidade. E transforma num ato de fé.