Crítica sobre o filme "Fio de Ariane, O":

Rubens Ewald Filho
Fio de Ariane, O Por Rubens Ewald Filho
| Data: 06/01/2016

Fui a primeira pessoa/equipe a entrevistar o diretor Guédiguian em Cannes, logo depois do sucesso de seu filme Marius e Jeanette, 97. Até então já era veterano, mas seus trabalhos ficavam restritos a sua cidade natal, Marselha. Desde então não parou de trabalhar e vários de seus atores (troupe) entraram para o cinema parisiense. Acontece que Jean Thomas, dono da distribuidora Imovision também é de Marselha (cidade portuária no sul da França) e ficaram amigos, o que explica porque seus filmes passam aqui regularmente (ainda que uns sejam melhores que outros).

Desta vez Robert quis dar um presente para sua musa e esposa Ariane Ascarid,e fazendo uma comédia quase romântica, apesar dela já ter certa idade (é de 1954 mas até aparenta mais, embora seja realmente boa atriz). Sua ideia foi fazer uma referência mitológica (grega) de Ariane (ela era filha de Minos, o Rei de Creta, apaixonada por Teseu, e que lhe deu um fio (mágico), ou seja, novelo de linha, que o ajudaria a não se perder no labirinto onde ele enfrentaria o Minotauro. Até hoje, me ajuda o Google, o fio de Ariane é constantemente citado nos âmbitos da filosofia, da ciência, dos mitos e da espiritualidade, entre outras esferas que reivindicam seu significado metafórico. Vinculado ao símbolo do labirinto, ele é constantemente visto como a imagem com a qual se tece a teia que guia o Homem na sua jornada interior e o ajuda a se desenredar do caminho labiríntico que percorre em sua busca do autoconhecimento.

A relação com a história do filme é no entanto bem vaga a não ser no fato de que a atriz e o personagem se chamam Ariane. Feita com muitas canções do Francês Jean Ferrat (1930-2010) e muitos trechos de Ópera, é sobre essa mulher solitária que organiza sua festa de aniversario mas acaba sozinha porque os amigos não aparecem. Aborrecida ela sai de casa sem destino até que um motoqueiro a chama para ir ao litoral num restaurante frequentado por idosos e aonde ela faz novos amigos e recomeça um novo estilo de vida.

Só isso. O elenco de apoio é tão simpático quanto a narrativa (embora seja apelar para a fantasia escolher um cágado que conversa com a heroína lhe dando conselhos!). E lembra um pouco o recente Lulu Nua e Crua, mas num outro tom, mais ligeiro, menos contundente. Mas indicado apenas ao público feminino com mais de quarenta.