Se você tiver interesse em conhecer a vida e obra de Assis Chateaubriand (1892-1966) recomendo evitar o filme e simplesmente ler o livro best-seller biográfico que foi escrito por Fernando Moraes. Esta produção lendária é provavelmente a mais cara e longa já produzida no Brasil, já que começou a ser produzido em 1995 e só agora esta estreando nos nossos cinemas. Há varias polemicas e até processos acusando o diretor estreante e produtor, mais conhecido como ator, Guilherme Fontes de mau uso de verbas, mas confesso que é um caso complicado e acho injusto opinar sobre algo que não tenho provas ou elementos para julgar. O fato é que se esperava que o filme fosse um desastre e que mesmo seu visual tivesse envelhecido (já que cinema envelhece na prateleira muito rapidamente, mas como é filme de época e construído como uma alegoria e um delírio, isso não chega a acontecer). E acabou tendo uma reação oposta, o filme vem sendo saudado com entusiasmo. Talvez pela surpresa de constatar que Guilherme fez um trabalho bem cuidado, bem fotografado, cinematograficamente interessante. Ainda que pelo fato de usar pseudônimos e nomes quase sempre inventados se torne impossível se entender o que está acontecendo. Vira na verdade um samba do Crioulo Doido, misturando fatos com invenções, preferindo o exagero e o grotesco, entre a farsa e melodrama, no que poderia ser uma oportuna critica a corrupção brasileira que não é coisa apenas atual, mas que já existia desde sempre e como já cansamos de perceber sem consequências!
O que mais me aborreceu é sem dúvida terem transformado Chateaubriand num canalha sem limites, capaz das piores grossuras e baixarias, de uma burrice indiscutível (se assim o fosse não teria chegado aonde chegou) , um protagonista desprezível sem um único momento de humanidade. E olha que com quase duas horas e meia de projeção se torna quase insuportável seguir sua trajetória confusa (na verdade, o filme só é desculpável pela interpretação de Marco Ricca no papel título, certamente seu melhor momento no cinema, ainda que o sotaque vai e vem sem critério).
Não há qualquer novidade em optar por fazer toda a narrativa uma espécie de julgamento (o diretor teve a ajuda confessa da turma da Zoetrope de Coppola que deve tê-lo levado a tornar todo o filme um delírio de um homem já doente, as portas da morte, que esta sendo massacrado num programa de TV. Ou seja, tudo que é mostrado e discutido vira algo circense, chegando mesmo a ter Chacrinha de condutor). Talvez fosse aceitável num teatro musicado mas na tela deixa o espectador perplexo e confuso ao tentar ao menos entender não apenas quem foi o herói como aqueles que o cercam, já que com frequência as figuras são misturas de diferentes personalidades históricas, quase todas transformadas em caricaturas (em particular as mulheres!).
É muito interessante de qualquer forma se constatar a falta de critério do brasileiro, que primeiro condenou o filme sem o conhecer e agora o elogiam como se isso os eximisse de culpa. Não percebem que no momento em que o filme vira farsa deixa de ter valor a crítica do oportunismo, até justificando os roubos, os golpes, tornando folclórico a desonestidade e a corrupção.