Crítica sobre o filme "Ex Machina: Instinto Artificial":

Rubens Ewald Filho
Ex Machina: Instinto Artificial Por Rubens Ewald Filho
| Data: 10/11/2015

Uma pena que não tenha sido exibido nas salas de cinema este interessante e talentoso thriller de ficção cientifica, que mesmo assim deve estar sendo descoberto nas poucas locadoras que sobraram e em VOD/Streaming. De qualquer forma, este primeiro filme de Garland como diretor (ele é mais lembrado como o roteirista preferido de Danny Boyle com Extermínio, 02, Sunshine, 07, A Praia, 2000). E com filmes de outros como Não me Abandone Jamais, 10 e Dredd, 12. Ele demonstra sua competência realizando um trabalho estiloso, visualmente excitante e intrigante. Sem falar na escolha do elenco, começando com a charmosa e já quase estrela sueca Alicia Vikander (O Amante da Rainha, O Agente da UNCLE, o ainda inédito A Garota Dinamarquesa). Mesmo pequenina, ela tem um rosto muito expressivo que reflete todas as emoções que um robô feminino, um A.I. (Inteligencia Artificial) poderia sentir. Igualmente marcante é a criação do cientista alcoólatra e pretensioso que a criou e faz experimentos com ela, em sua mansão hiper moderna no meio de uma floresta (as locações com montanhas, geleiras e cachoeiras foram na Noruega). Quem faz esse papel de Nathan, é o recém descoberto Oscar Isaac, que foi descoberto em Drive, 11, estreou para os Irmãos Coen (Inside Llewellyn Davis, 12), depois brilhou no pouco visto O Ano Mais Violento (14) e estará no próximo Star Wars.

Gosto menos do protagonista que é o irlandês Domhnall Gleason, que tem cara de nerd perpétuo (embora seja filho do grande Brenda Gleeson que foi Alastor Moody na série Harry Potter. Aliás foi na série que este rapaz teve sua primeira chance mas ainda assim acho que se repete e poderia ter sido substituído por alguém mais fotogênico que daria uma dimensão a mais a história). Ele faz Caleb que é escolhido pelo dono do projeto para servir de teste para sua nova invenção, uma mulher robô mega inteligente, que é capaz de pensar e amar e mesmo conspirar contra seu inventor. Alicia é tão suave que não deixa a personagem chamada de Ava (para lembrar Eva, a primeira mulher) se tornar vilã mas singularmente humana. O título do filme deriva de Deus ex-machina, vindo do teatro grego para se referir a quanto alguma situação dramática é resolvida sem muita lógica, por uma força externa (até hoje isso é usado ainda mais no teatro, quando uma resolução de um texto ou situação, cai do céu, só para se ter um final). O filme tem certos detalhes intelectuais (o poema que Nathan diz bêbado é do cientista Oppenheimer, um dos criadores da Bomba Atômica e mais tarde há outra citação dele: "Me tornei a morte, destruidor de mundos" , os nomes são bíblicas, além de Eva, Nathan era um profeta e Caleb era um espião enviado por Moisés para investigar a Terra Santa). No começo do filme Caleb ouve a canção Enola Gay (nome do avião que soltou a primeira Bomba Atômica), a companhia onde Caleb trabalha chama-se Blue Book, referência ao filósofo Wittegenstein! E conforme confessa o diretor, visualmente a influência foi de Stanley Kubrick (na iluminação e enquadramentos principalmente!).

Todas essas referências tornam ainda mais interessante este filme que merece uma recepção e tratamento mais aprofundado. Procurem descobrir e curtir.