Crítica sobre o filme "Floresta Que Se Move, A":

Rubens Ewald Filho
Floresta Que Se Move, A Por Rubens Ewald Filho
| Data: 07/11/2015

Há menos de um mês que eu consegui assistir o longa anterior do diretor Vinicius Coimbra, que ficou quatro anos proibido de circular por causa de direitos autorais, o talentoso e forte A Hora e a Vez de Augusto Matraga. Deve ter sido difícil para o cineasta (que tem um longo currículo como diretor de novelas e que tais na Globo) que optou para fazer como segundo filme, uma adaptação de nada menos do que Macbeth de Shakespeare (se arriscando porque há outra chegando com o Michael Fassbender e Marion Cottilard). Só que atualizada e reduzida. Uma aposta difícil porque é nada comercial, começando com o próprio titulo do filme que é tirado de frase chave da peça, mas que faz pensar num produto infantil ou ao menos animação.

Houve um óbvio esforço de manter a integridade do texto mesmo enfrentando um orçamento que deve ter sido reduzido (por exemplo, é uma coprodução com o Uruguai e por isso parece ter sido rodado por lá, em basicamente dois sets, uma esplendida mansão de vidro e concreto armado e outra que seria a sede de um banco, além de uma rápida cena a beira de um lago! E o elenco tem preciosidades, como sempre magnífico Nelson Xavier, que faz com toda humanidade a figura do Rei, ou seja, o presidente do Banco. Ou o igualmente competente Ângelo Antonio e o retorno de Ana Paula Arósio, depois de longa ausência, ainda mantendo sua beleza e fluência como atriz (ainda que perca o controle nas suas cenas finais). Como o protagonista Gabriel Braga Nunes se defende com nobreza dos ciladas que o roteiro lhe armou. Um ponto fraco é sem dúvida a figura da bruxa que faz as predições (na peça são três e marcantes) que não consegue criar o clima.

O problema maior certamente é quando o herói, chamado Elias, depois ser colocado como vice-presidente do banco (o anterior foi corrupto e roubou uma pequena fortuna para depois se matar, outra coisa de peça antiga. Vejam os nossos atuais ladrões e nenhum teve a dignidade de se matar!). Enfim, de hora para outra a mulher vira diabólica e já faz a cabeça dele para matar o patrão/chefe, que já esta bem doente e, portanto, seria questão de esperar um pouco. Ou ao menos planejar melhor. Ninguém em estado de sanidade faria como ele que pega uma faca de cortar carne e mata o velho para depois jogarem o corpo num lago! Coisas de amador que nunca viu um filme americano policial em sua vida. Também igualmente absurdo é se virar contra o melhor amigo dele que de repente é outro convidado para o extermínio.

Tudo bem que em Macbeth a ação se passa em tempos antigos na Escócia, onde matar a sangue frio era normal e costumeiro. O comportamento dos criminosos no filme acaba sendo ingênuo e inconvincente. Como é também assim o comportamento da policia (claro que os protagonistas deixam provas por toda parte!).

Fica impossível aceitar a trama e admirar a fotografia (que parece coisa de revista Architure Digest). Mas por favor, não levem crianças!