Já tinha gostado de um filme anterior, documentário chamado Três Irmãos de Sangue, de Angela Patricia Reineger (06) que contava a histórias dos três irmãos Hebert, Henfil e Chico, todos hemofílicos que foram contaminados pela Aids (por causa dos Bancos de Sangue). Mesmo que Hebert (1935-97) tenha sido um fenômeno mais carioca e menos presente aqui em São Paulo (tanto que este filme foi votado o melhor documentário do Festival do Rio). O que não é problema, porque muita coisa que eu não sabia dele, fiquei informado e sempre com prazer. Ajudado por um excepcional material de arquivo (muita coisa fornecida pela Globo, que coproduz o filme) todo de boa qualidade com a exceção das imagens de passeatas ou do Golpe (o Brasil bem que está precisando da ajuda de Scorsese para salvar nosso passado em película, todos precisando de restauração). O diretor Victor nasceu no Moçambique, nacionalidade portuguesa (assim diz nem sempre confiável Wikipedia), mora no Brasil há 25 anos e estudou cinema na Universidade Federal Fluminense, fez o documentário Serra Pelada, a Lenda da Montanha de Ouro, 03 e foi professor da Academia de Cinema. Dirigiu ainda Língua, Vidas em Português, 02, também documentário e a mal sucedida comédia As Aventuras de Agamenon, o Repórter, 12, que tinha Fernanda Montenegro de narradora. Sempre também como roteirista e montador.
Confesso que não vi os anteriores mas o resultado aqui é informativo e sempre interessante. Já por si só tem um elemento trágico irresistível, a condenação a morte como era na época a Aids que não tinha cura, mas também o biografado é carismático, sincero, objetivo. Não se foge nem mesmo do caso dele ter aceitado ajuda dos banqueiros de bicho para sua luta contra a Fome (e o escândalo hoje esquecido não passou de uma típica hipocrisia a la brasileira, já que são eles que patrocinam as escolas de samba e ninguém acha isso nada demais). Com depoimentos certeiros das duas esposas, dos dois filhos e até do Serra, o filme constrói sua história de uma forma convincente chegando mesmo a acenar que se estivesse vivo ele estaria hoje na luta contra nossa corrupção política. Enfim, um trabalho que merece a maior visibilidade possível (o titulo para quem não se lembra recorda a canção O Bêbado e o Equilibrista lançada por Elis Regina, que era uma homenagem a ele, provocada pelo irmão humorista, também de saudosa memória, Henfil).