Crítica sobre o filme "Maias, Os: Cenas da Vida Romântica":

Rubens Ewald Filho
Maias, Os: Cenas da Vida Romântica Por Rubens Ewald Filho
| Data: 05/11/2015

Tenho dificuldade para apreciar o cinema português nem apenas pelo carregado sotaque dos atores mas principalmente pelo gosto pelas narrativas lentas, arrastadas, com frequência nada naturais ou cheias de vida. Como a Globo já fez uma adaptação de grande qualidade para minissérie do livro majestoso de Eça de Queiroz (1845-1900), esta aqui parece francamente descartável. Embora exista uma versão de três horas que os locais insistam em afirmar que é a melhor, assistir este exercício literário já é muito penoso e não escapam nem mesmo os atores brasileiros que consegui identificar Maria Flor (como Maria Eduarda, com os cabelos aloiradas e pouco convincente e André Gonçalves como Castro Gomes).

A possível originalidade do filme é que ele é todo rodado em estúdio, sendo que o fundo da cena ou é pintado (nem tenta ser naturalista, fica claro que é um rabisco) ou utiliza fotografias (como nas corridas de cavalo). Fora disso, se passa nas mansão da família, onde tudo mundo fica hierático, duro, enquanto o narrador tenta repetir o texto de Eça (coitado, seu texto é ainda hoje belo e sem duvida é um dos maiores da língua portuguesa mas não há quem resista a falsidade dos desempenhos e das atitudes).

Tudo começa em preto e branco mas depois de 12 minutos ganha cores. Como se fizesse alguma diferença diante dos figurinos que parecem alugados de uma casa teatral. Conta o drama da família Maia, depois de uma infância difícil por causa da vida boemia da mãe Maria Monforte, o jovem Carlos de Maia (feito quando adulto pelo melhor ator do elenco, o galã Graciano Dias) tem uma educação cuidada pelo avô. Quando retornam a Lisboa em 1875, ele e seu amigo João (Pedro Inês) levam uma vida livre até o rapaz se apaixonar pela misteriosa Maria Eduarda (Flor). Será uma paixão proibida. Quem dirigiu foi um dos mais cultuados diretores locais de longa carreira (Um Adeus Português, 1986, Tempos Difíceis, 1988, Tráfico, 1998, Quem És Tu?, 2001, A Mulher que Acreditava ser Presidente dos Estados Unidos da América, 2003 ou o seu mais recente Filme do Desassossego, 2010).

Naturalmente foi celebrado por lá como grande filme, mas fica muito distante do melhor que vi dentre os recentes que foi feito pelo chileno Raoul Ruiz, Os Mistérios de Lisboa (2010).