É um absurdo autodestrutivo, no mesmo dia estreiam em São Paulo e Rio, para aproveitar o fim da Mostra, cinco filmes brasileiros, três deles ao menos muito elogiados. Tem este Olmo, o único que deu para eu ver antes, o documentário sobre os bastidores de Cidade de Deus e seu elenco, uma comédia Depois de Tudo e outro premiado, Beira Mar e ainda a Floresta que se Move do mesmo diretor do ótimo A Hora e a Vez de Augusto Matraga! Pense bem, com as salas vazias, será que acham mesmo que alguém vai encontrar tempo e dinheiro para ver todos eles?
Não há dúvida que este seria o melhor filme Francês jamais codirigido por uma brasileira. Mas seria injusto com este novo filme de Petra Costa, que encantou a crítica com o trabalho anterior, Elena, e que ganhou premio do Júri em Locarno, dois no CPH Dox. Depois de ganhar vários prêmios no Festival de Brasília (filme júri popular, direção, montagem, direção de arte) e vem na trilha dos documentários em que os realizadores recordam personagens ou situações de seu passado, seja político, seja pessoal. Esta diretora jovem fez uma viagem ao seu passado, em busca de sua irmã mais velha que se suicidou e que mal conheceu. Qual é a diferença dos outros do gênero? Simples, a moça é talentosa, sensível, fez tudo com delicadeza e emoção. Conseguiu antes de tudo um material importante de arquivo, com registros familiares da irmã Elena com a própria Petra, ainda pequenina. O filme é quase uma história de mistério porque é sobre uma mulher que sai em busca da irmã desaparecida quando encontra um diário dela (feito aos 17 anos, a mesma idade com que estava Petra). Depois encontrou o material gravado, realizou entrevistas com as pessoas próximas a ela e foi a Nova York atrás dos vestígios da irmã. Que era muito bela, sonhava em ser atriz, tinha envolvimento também com os movimentos de luta contra a ditadura militar. De um determinado ponto em diante, Petra não apenas narra a busca mas também passa a registrá-la. Tudo é feito com um clima onírico, enfatizando o mar, a água, a passagem. Um filme muito lírico, bonito, muito especial.
Neste segundo longa ela mistura documentário com ficção retratando a vida de uma atriz Olivia (que usa seu próprio nome no filme) que está trabalhando numa encenação do icônico A Gaivota de Tchecov, com grandes chances de fazer excursão nos EUA. Mas esta namorando um dos atores do elenco, Serge, e se vê de repente grávida. Apesar da carreira não tem muita dúvida em ter a criança e a acompanhamos durante toda a gravidez do menino que deverá se chamar justamente Olmo, como a árvore. Foi uma escolha certa a protagonista ser uma atriz porque as situações são mais ricas e explícitas, expressando todos os ângulos da personalidade, ora adorável, ora insegura. Conhecemos também seus amigos,ex-namorados, sempre de forma interessante e envolvente.
Não sei dizer quem fez o que no filme, um problema em trabalho em dupla (embora tenha visto o debate dela na Mostra, não foi tocado no assunto). Mas o que importa é que o resultado confirma o talento da moça e sempre manteve meu interesse e atenção.