Crítica sobre o filme "Pasolini":

Rubens Ewald Filho
Pasolini Por Rubens Ewald Filho
| Data: 05/11/2015

No mesmo ano em que fez Bem Vindo a Nova York (um filme ao menos mediano, pelo qual veio a São Paulo), o diretor junkie Abel Ferrara também ousou dirigir mais uma biografia do grande cineasta e poeta Pier Paolo Pasolini (1922-75), que foi assassinado por um michê numa praia perto de Roma (outros defendem a tese de que teria sido morto por seus inimigos políticos já que era comunista e cristão, e naquele momento no fogo cruzado). Tinha acabado de dirigir uma versão da obra de Sade, Saló ou os 120 dias de Sodoma, que estranhamente foi uma súmula de muitas de suas ideias um filme mais melancólico e triste, do que escandaloso (há os que acham que Pasolini tinha uma forte tendência sado-masoquista e auto destrutivo!).

Mas o cineasta já teve antes outras biografias na tela (“Nerolio,” “Pasolini: An Italian Crime” and “Whoever Says the Truth Shall Die)” que também não eram grande coisa. Mas nada se compara com este filme que teve a coragem de ser selecionado para Veneza. É bom que o espectador tenha certo conhecimento da vida e obra do artista, porque não tem pé nem cabeça, nada se explica. Situa-se nos últimos dias de sua vida, onde ele é vivido por Willem Dafoe (o mesmo que fez o Cristo de Scorsese e o herói de Babenco), que mantém a dignidade apesar de tudo. Começa com a finalização de Sodoma, anuncia também o seu próximo projeto que seria Porno-Tel-Kolossal, com o ator favorito do diretor Ninetto Davoli fazendo o papel de Epifano, que viaja para a cidade gay de Sodoma para a Festa de Fertilidade (depois disso, Scarmachia por sua vez aparece fazendo justamente o Ninetto, que é apresentado de forma muito simpática!). Há também duas entrevistas recriadas e um trecho de carta que foi escrita para o escritor Alberto Moravia, que depois ajudou a reescrever seu ultimo livro chamado Petroleo (e para complicar o personagem desse livro chamado Carlo, de Roberto Zibetti, aparece numa cena de sexo quase explícito, na verdade o único momento mais ou menos erótico de todo o filme).

Achei simpático ao menos uma sequência de almoço familiar, em que Maria de Medeiros faz a amiga atriz do diretor Laura Betti, que conta suas experiências filmando na Iugoslávia e debochando do sistema comunista. A mãe de Pasolini por sua vez é feita pela atriz Adriana Asti (de Accatone), e ex-mulher de Bertolucci. Enfim, um desastre que mais ofende que homenageia Pasolini.