Fiquei muito emocionado com este surpreendente drama chileno que conta sua história real com sinceridade e emoção, sem esconder detalhes importantes, como o cinismo do presidente do Chile diante dos fatos e a absurda falta de ação da firma dona de mina, sem esquecer momentos de grande empatia, como a sequência em que uma das mulheres canta Gracias a La Vida, a música famosa enquanto espera pelo milagre de salvar os mineradores que estão presos debaixo da terra. Há outra razão para o filme nos agradar, que é a participação do brasileiro Rodrigo Santoro, em papel importante e chave, como o ministro das Minas do Chile que acaba sendo o líder do resgate e que além disso tem a chance de contracenar com a sempre magnífica Juliette Binoche (que faz um papel relativamente pequeno, mas a diretora teve a inteligência de colocar uma grande atriz diante daquela velha técnica de que escalar uma grande intérprete de forma que isso levanta do o nível do elenco. De qualquer forma, é uma mistura de americanos conhecidos convincentes, inclusive o esquecido Lou Diamond Phillips, de La Bamba, no que pode ser seu retorno agora em papeis característicos) com outros latinos, sem esquecer que num caso raro: Antonio Banderas está humano e convincente no papel do líder dos mineradores que nem por isso deixa também de errar e procurar lucro. Possivelmente sua melhor interpretação no cinema até hoje.
Quem assina a direção é uma mexicana Patricia Riggen, que faz um trabalho bem competente (dela conheço a comédia romântica Sob a Mesma Lua/La misma Luna,07, com a mesma Kate de Castillo, e Garota em Progresso, uma comédia que fez nos EUA com Eva Mendes, aprendendo a cuidar de uma garotinha, como mãe solteira). Na verdade, nada antes explica seu bom trabalho ajudado por um roteiro a dez mãos, rodado no Chile e Colômbia. Este também foi o último trabalho do talentoso compositor James Horner, que morreu dois meses depois num acidente de aviação. Os verdadeiros heróis do filme que estavam sem trabalho fizeram figuração no filme e tem no final uma sequência bem forte, em preto e branco, quando são identificados.
A verdade é que mesmo sabendo do fato, ou até por causa disso, já que durante semanas ele esteve presente nas TVs de todo o mundo, não se perde o interesse. A história é narrada em ordem cronológica, começando no dia anterior antes do acidente, quando todos se reúnem num almoço festivo. A mina no deserto chileno não tem qualquer segurança, além de pagar muito mal, mas mesmo assim os 33 empregados descem a procura do ouro, sem medo do perigo. Quando há um desabamento, tem a sorte de conseguirem correr para uma espécie de bolsão de segurança onde conseguem sobreviver. Mas o problema é que lá em cima são dados como mortos e sem esperança. As famílias deles lutam por eles e finalmente o governo chileno resolve tomar uma atitude, no que será o resgate mais difícil de todos os tempos. É uma história de sobrevivência, mas também celebrando a luta das famílias e denunciando o desrespeito que os patrões tem por seus empregados. A narrativa é tradicional a não ser por uma sequência muito marcante, em que cada um deles já sem comida imagina um banquete com a presença das mulheres. Um momento onírico que ajuda a embarcar no filme, até mesmo chegando as lágrimas. Afinal é um latino que em sua grande tradição nunca teve medo do drama e as tristezas da vida. Recomendo o filme e em especial seu elenco.