Crítica sobre o filme "Grace de Mônaco":

Rubens Ewald Filho
Grace de Mônaco Por Rubens Ewald Filho
| Data: 29/10/2015

Não sei onde estavam com a cabeça o diretor Dahan (que tinha se saído tão bem com a biografia de Piaf, um Hino ao Amor, 07) e seus numerosos produtores, quando resolveram fazer esta biografia da estrela de cinema, vencedora do Oscar e uma das mulheres mais belas de seu tempo, Grace Kelly ( 1929-1982), que obviamente estava fadada ao fracasso diante da oposição evidente que teria e teve do Principado de Mônaco. O medo de um processo era tão grande que o roteiro é um conto de fadas mentiroso e tolo, escondendo basicamente todos os fatos e ainda mais mentiroso do que as próprias revistas de cinema da época.

Afinal ninguém sabe mais do passado (ou seja, quem foi Grace?). O que também explica o fracasso de bilheteria do filme e a péssima repercussão que ele teve quando ele foi convidado ano passado para ser o filme de abertura do Festival de Cannes (um lugar que é vizinho de Mônaco, ou Monte Carlo como também é chamado!). De tal forma que foi cancelada uma estreia nas salas de cinema (por isso chega aqui tão atrasado) e nos EUA estreou diretamente na televisão (onde idiotamente foi indicado a melhor telefilme do ano!).

Grace, que foi a estrela preferida de Hitchcock (com quem fez 3 filmes, entre eles o super clássicos Janela Indiscreta e Ladrão de Casaca), era de uma família americana rica e famosa por ter romance com seus coastros, em geral homens mais velhos (praticamente todos com que filmou, como Ray Milland, William Holden, Clark Gable. Sinatra e Cary Grant ficaram apenas amigos íntimos). Em visita a Cannes, foi levada por um jornalista para conhecer o Principado de Cannes, onde encontrou o Principe Rainier, que estava ansioso para salvar seu pequeno país das mãos da França e procurava uma consorte famosa. Grace ingenuamente caiu na conversa e o casamento deles virou conto de fadas no mundo todo (embora a família dela tivesse que pagar um dote de 2 milhões de dólares, muito na época). Logicamente a realidade era mais dura. Tiveram três filhos, mas o príncipe também era infiel, o que a levou a também ter romances secretos (que o filme não aborda) e se tornou especialmente infeliz quando os habitantes do lugar ficaram contra o retorno dela ao cinema (seria em Marnie, de Hitchcock). Dali em diante, assumiu sua infelicidade e morreu num acidente de carro nas perigosas estradas perto de Mônaco (aliás o mesmo lugar onde ela filmou Ladrão de Casaca). Parece quem dirigia o carro era a filha e na verdade Grace teve um derrame. Mas com gente rica e importante nunca se sabe o que é verdade? O fato é que ela cumpriu seu papel direitinho embora o sonho tenha virado pesadelo.

O que o filme mostra é mais ou menos isso, mas de forma adulterada e superficial. Até a maior parte das locações foram feitas na Bélgica e Genova. A única qualidade que eu achei foi Nicole Kidman, que usa um tipo de maquiagem muito semelhante a de Grace (ou seja, há um esforço em reproduzir a beleza da estrela). Tudo falso, não muito melhor do que outro telefilme de 83, Grace Kelly com Cheryl Ladd e Christina Applegate. Nem para rir e debochar serve.