Crítica sobre o filme "Pequeno Dicionário Amoroso 2":

Rubens Ewald Filho
Pequeno Dicionário Amoroso 2 Por Rubens Ewald Filho
| Data: 10/06/2015

Uma pena que Sandra Werneck não faça filmes mais frequentemente porque a gente sente saudades de seus dois clássicos (ou cults, se preferirem) que foram Pequeno Dicionário Amoroso (97) e o encantador Amores Possíveis (01). Sem desmerecer naturalmente Cazuza, 04, os dois eram exemplos encantadores, mas também muito brasileiros de comédia romântica para jovens adultos, sem qualquer resquício de querer imitar o similar americano. Por isso, é tão bem vinda esta continuação do Dicionário e também mais triste a decepção. A culpa evidente não é dos atores, a tendência como costuma acontecer com os filmes nacionais é colocar a culpa mesmo nos roteiristas que tiveram algumas ideias muito ruins. A maior delas usar títulos separando as cenas, sem nada acrescentarem com isso. Nem mesmo humor. Aliás, onde foram parar as risadas. Depois de meia hora de filme, ficava me perguntando: isso não deveria ser uma comédia? Pelo jeito não, a história é mal contada, o elenco é desperdiçado, particularmente Gloria Pires, que tem meia dúzia de cenas primárias como uma mãe de santo ou coisa que valha, que lê cartas e faz feitiços (ela é ex-mulher do Gabriel, mãe de uma garota moderna, Fernanda Vasconcellos, que trabalha com o pai que continua a lidar com cobras e sapos). O filme parece que foi rodado em duas partes e não há duvida que mostra recantos fotogênicos do Rio (aí esta uma coisa que seria difícil de conseguir: enfear o Rio). Desde a separação do casal central no filme anterior, passaram-se anos e Luiza (Andréa Beltrão) casou duas vezes, atualmente com um construtor rico e chato Alex (Marcelo) enquanto Gabriel teve vários romances inclusive um com uma garota bem jovem (Fernanda Freitas). Luiza também dirige uma galeria de arte, melhor dizendo de fotografias (ou seja, deve morrer de fome!) e de repente sente saudades de Gabriel, passando a reencontrá-lo e frequentá-lo! Embora ele continue o mesmo de sempre, não faz e não sai de cima.

Para tornar o filme mais jovem, inventaram também duas histórias paralelas alias muito mal desenvolvidas. Uma delas é com Alice (Fernanda Vasconcellos), filha de Gloria e Gabriel, que é bissexual sem maiores problemas. Está namorando uma moça (e há uma sequência totalmente descartável que não combina com o filme, mostrando as duas garotas se amassando num reservado de banheiro de boate!), mas sente-se atraída também por um poeta. E tenta construir um triângulo perfeito! Enquanto isso, Pedro (Miguel Arraes), filho de Luiza e Alex, é um garoto de 13 anos, que procura encontros na Internet com uma mulher mais velha. Esta situação acaba não passando de uma piada mal contada.

Porque de repente muito convenientemente entra no filme um fotografo maduro (Moscovis) por quem ela se apaixona. Pronto e lá retorna Chico Buarque de fundo cantando uma canção (alias não inédita). Que tristeza... Até a dupla central parece apática e desinteressada num filme que nunca acontece.