Crítica sobre o filme "Vingança ao Anoitecer":

Rubens Ewald Filho
Vingança ao Anoitecer Por Rubens Ewald Filho
| Data: 29/06/2015

Esta poderia ser uma exceção na conturbada carreira de Nicolas Cage e também o retorno num projeto interessante do diretor-roteirista Schrader, famoso como o escritor de Taxi Driver. Mas foi um projeto infeliz que explodiu quando os produtores (gente de Bucareste, Romênia) mandaram embora o autor e finalizaram o filme sozinhos, sem sua interferência. Pior do que isso, havia um item no contrato dos atores que impedia que eles fizessem qualquer declaração negativa em relação ao filme (o jeito foi fazer uma camiseta reproduzindo essa parte do contrato. E todos tiraram uma fotografia mostrando a camiseta, que já dizia tudo que eles não podiam divulgar). Também tiraram do filme o diretor de fotografia Gabriel Kosuth que não pode fazer o acerto de cores tradicional. E o que deveria ser um filme dark e sombrio, virou uma aventura banal, muito colorida e brilhante. Gabriel explica dizendo para vocês tentarem ver Apocalypse Now em preto e branco! E que aqui perderam a cor expressionista e violenta, que representam símbolos e sentimentos expressionistas. Como se esculpissem com cores. As cenas africanas eram verde amarelas, chocolate-sépia nos EUA e azuladas verdes da Europa. Tudo isso se perdeu. Quem também estava no filme era o diretor Nicolas Winding Refn, que pensou em dirigir o roteiro antes com Chaning Tatum e Harrison Ford. E trabalhava como produtor executivo quando sofreu o mesmo problema chamando tudo que se sucedeu como um desrespeito artístico.

Obviamente tudo isso decretou estupidamente para os produtores “o beijo da morte”, já que o filme foi massacrado pelos poucos que lhe deram a chance de comenta-lo. Apesar disso, é uma das menos ruins aparições de Cage (que levou um milhão de dólares dos cinco do orçamento) que até faz sério e um pouco exagerado a figura do ex-agente do CIA que descobre que está sofrendo de um doença seríssima, pior que Alzenheimer, resolve largar o emprego (onde já não era levado a sério) e ir atrás do terrorista que o torturou. Sujeito a crise de nervos e temperamento bipolar, ele consegue ir para Romênia com a ajuda de um colega fiel (Anton Yelchin, de Star Trek). A suíça Irene Jacob faz a antiga namorada que o reencontra.

Lançado diretamente em DVD no Brasil, o filme ainda conserva em algumas cenas o tratamento de cor (vai ver nem isso os produtores conseguiram estragar). Na meia hora final Cage modifica a figura (deixa-se ficar com cabelos e barba branca e óculos) e se infiltra perto do inimigo. Mas foi justamente por causa do final que houve grande parte do desacerto e briga então aqui a versão é menos violenta (em termos) e mais curta. Sobrevive porém uma certa ironia.