O público tem ignorado vários filmes brasileiros premiados em festivais, ou seja, de qualidade, o que tem provocado compreensível apreensão na nossa ainda em formação indústria de cinema. Será possível que só comédias são aceitas e assim mesmo nem todas? Ou será a crise que se manifesta também nas salas de cinema, que tem o preço alto (30 reais é pesado hoje em dia). Duvido que seja reação ao desamor e desencantado com tudo que é brasileiro.
De qualquer forma, tem sido uma injustiça que pode acontecer de novo com esta produção da Conspiração que há mais de um ano atrás foi profusamente premiada no Festival do Recife, com o Troféu Calunga. Ganhou o premio do Júri Popular, além dos de filme, direção (Mini Kerti, que é nome de mulher caso alguém tenha dúvida), ator (Vladimir), atriz (Alice), coadjuvante (Bricio), roteiro (Leandro Assis), direção de arte (Kiti Duarte), musica (Dado), edição de som (Thomas Alen).
O filme é inspirado em fatos reais e registrado em diversos livros do famoso João do Rio, pseudônimo do escritor e jornalista Paulo Barreto (1881-1921), e em especial em Memórias de um Rato de Hotel (12), que retrata uma figura do inicio do século 20, Artur Antunes Maciel, um ladrão inteligente e elegante e sedutor, gaúcho, de família rica, que morava no Rio e se hospedava nos melhores hotéis da cidade para roubar. No filme, ele se apresenta como Dr. Antonio e tem um romance proibido com Eva (Alice), desenhista casada com um homem rico (Bricio) mas egoísta e desatento com sua mulher. Felix Pacheco (Blat) que é diretor do recém inaugurado gabinete de identificação - e que esta agora lidando com modernidades, com digitais! - decide caçar este rato de hotel.
Realizado com muito cuidado, bela produção, locações luxuosas, elenco eficiente, certamente lembrando mais os filmes europeus do gênero “ladrão galante”, o filme é surpreendente e me pareceu uma raridade no cinema nacional.