Crítica sobre o filme "Sono de Inverno":

Rubens Ewald Filho
Sono de Inverno Por Rubens Ewald Filho
| Data: 14/05/2015

Lançado discretamente numa única sala, este vencedor da Palma de Ouro em Cannes é também recordista, com a exorbitante metragem de três horas e 16 minutos é o mais longo vencedor de Cannes em todos os tempos (para se ter uma ideia, Ben-Hur tem 212 e é um épico, aqui é um filme onde as pessoas ficam conversando em salas fechadas com ocasionais passeios pela neve). Conheço a obra completa apresentada em Cannes do diretor turco Ceylan e não me espantam os dados. Mas acho este seu pior filme. Ele teria rodado mais de 200 horas de material e a primeira montagem teria sido de 4 horas e 30 minutos! Ele teria se inspirado em obras (não identificadas de Tchecov, Tolstoi, Dostoeiwski, Voltaire) com algumas frases deles perdidas na conversa interminável, porque o protagonista seria um ator de teatro e na verdade é interpretado justamente por um veterano do palco, que por sinal tem uma figura forte e poderosa, Haluk Bilginer, que recusou o papel três vezes e está no recente 118 Dias (Rose Water com Gael Bernal), Relutante Fundamentalista de Mira Nair, W.E. o Romance do Século de Madonna, como Al Fayed, Trama Internacional com Clive Owen. E ainda o novo Ben-Hur que esta sendo feito com Jack Huston e Rodrigo Santoro como Cristo!

Às vezes eu acho que acontece um caso de delírio coletivo quando todos passam a reagir do mesmo jeito, seja lá porque...Medo de ficar de fora de um sentimento que parece coletivo, por exemplo. Mas o fato é que tudo que li elogiando este filme é um engodo. Começando pelas paisagens que realmente seriam interessantes se fossem mais bem mostradas, já que se passa na chamada Capadócia, no centro da Anatólia, Turquia, aquele lugar onde as pessoas vivem em casas escavadas dentro de pedras! Só que elas parecem pouco e mal (as conversas são obviamente em estúdio) e mesmo as cenas de neve são poucas e nada especial (nem as dos cavalos).

Os diálogos são intermináveis e pouco interessantes. O ex-ator já cinquentão Aydn vive na região onde é dono de pequenos hotéis que aluga para turistas e vive com sua mulher bem mais jovem, Nihal, com quem discute com frequência e com sua irmã Necla, em crise porque se divorciou faz pouco tempo. Caça ocasionalmente e vive também da renda de casas alugadas para operários, que com frequência não tem dinheiro. Tem uma espécie de capataz que tenta manter a ordem mas a verdade que em meio as longas discussões pouca coisa de notável sucede (o titulo original quer dizer hibernação em Turco).

Quem suportar o sacrifício verá uma única sequência forte e diferente, quando Nihal resolve se meter nos negócios do marido e aprende dura lição. Mas é pouco e a premiação foi exagerada. Mesmo para público de arte, a dose é pesada.