Alguma coisa parecia errada quando se lia no jornal ao falar do filme Entre Abelhas, estreia da semana, anunciando-o como uma tragicomédia! Meu Deus, vão devagar! Woody Allen também fazia um drama ou outro, por sinal chatos e fracassos, mas ao menos disfarçava até o público ter pago o ingresso. Steve Martin de vez em quando também tentava personagens mais sérios e mesmo o grande mestre Chaplin, esquecia do Carlitos, muito raramente porque não era bobo e precisava da renda dos filmes que era sua única subsistência (mas fez Monsieur Verdoux, Uma Mulher em Paris e até Luzes da Ribalta que é mais parar chorar do que rir!). Faz parte da velha síndrome do palhaço que não satisfeito em fazer rir, a mais nobre das artes segundo meu parecer. Quer virar dramático e ganhar prêmios. Daqui a pouco estará fazendo Shakespeare e não duvido até que bem...
O que infelizmente não é uma coisa bem aceita pelo público. Mais irritante do que ser enganado ver um drama meio thriller e suspense, quando pagou para ver uma comédia, só mesmo quando inventam dar ao filme um final aberto. Qualquer solução: fantasma, ET, foi tudo um sonho... Por mais tola que seja é melhor do que não terminar, público brasileiro sempre odiou... o não-fim.
Enfim, todo mundo tem direito de experimentar, ainda que me pareça cedo demais. E francamente eu esperava muito deste que é o primeiro longa metragem do muito talentoso (mas que nesta altura ainda se classifica como promissor) Fabio Porchat, que foi revelado na revolucionária serie da Internet Porta dos Fundos (que é um prazer de sempre rever, melhor que na TV na verdade, de vez em quando retorno só para rir de novo com uns favoritos!). Gosto também da edição da Internet, com aquele final que pode até ser aberto as vezes mas que tem uma amarração muito simpática. Que sempre me pareceu obra justamente do diretor deste filme, o Ian SBF.
Segundo eles contam, a história já existe há mais de dez anos e seria sobre o isolamento auto imposto pelas pessoas nos tempos modernos (o título deve ser mais recente porque essa história de abelhas estarem desaparecendo é bem mais recente e representaria um perigo para a humanidade porque são necessárias para a polinização. Alias faz um tempo que não ouço falar no assunto e morrermos por culpa das abelhas seria mais do que poético!!!).
Enfim, a história é sobre o herói recém divorciado que entra em crise ao perder a esposa (Giovanna Lancellotti) e passa a não ver as pessoas que pouco antes estavam com eles. Alucinou? O amigo Marcos Veras tenta ajudá-lo, mas o alívio mais cômico do filme é Irene Ravache, que é uma delícia no papel da mãe dele (ainda com que com uma iluminação super ingrata). Um detalhe importante: pena que o público saia infeliz, porque Irene esta ótima, os coadjuvantes uma delícia, inclusive a turma deles (Veras é pizzaiolo, este com reações perfeitas) . Mas não se mata uma mãe desse jeito, passando praticamente em branco (será que não pensaram em fazer ela voltar como fantasma? Seria a saída certa em vez de inventar a história muito mal aproveitada da prostituta que não emplaca). A história das abelhas para brasileiro francamente não impressiona. Outra vez é uma pena porque o filme é muito bem construído, bem boas piadas, algumas situações divertidas. E principalmente Fabio está especialmente bem. Contido, sem cair em momento nenhum na chanchada que é a grande maldição do humorista brasileiro! O exagero, o excesso. Que ele mesmo comete na Globosat.
Enfim, o pessoal é talentoso, o filme interessante e competente. Mas como eu temia não consegue agradar.