Depois de anos aguardando os direitos da história de Jorge Amado, por que estragar tudo com um pôster horrível e mau feito, um titulo que além de não ter nada a ver com a historia é por demais banal? Duas razões já para tornar fracasso um filme cuja expectativa estava basicamente na direção de Marcos Jorge, que tinha feito o interessante Estômago (que até hoje os críticos cultuam). Mas alguma coisa desandou, talvez a falta de recursos ou dinheiro. Isso poderia explicar porque a péssima direção de arte que não nos deixa entender direito nem onde se passa a história, esse Peri Peri dos diabos, nem em que época (os figurinos, por exemplo, abraçam no mínimo meia década de incertezas). E porque escolheram o ator Joaquim de Almeida, que duvido que signifique alguma coisa no mercado internacional e que de vez em quando fala com sotaque português, de vez em quando tenta falar brasileiro, enquanto muita gente reclama de o não entender. Este não é o problema, ele simplesmente não tem fôlego para segurar um personagem desses, que desde o começo era propriedade do Anthony Quinn, que sonhou durante décadas em interpretá-lo.
Reza a lenda oficial do site que, em 1961, Jorge Amado lançou o livro Os Velhos Marinheiros ou O Capitão de Longo Curso. Que tinha duas histórias, que eram A Completa Verdade sobre as discutidas aventuras do comandante Vasco Moscoso de Aragão, Capitão de Longo-Curso e A Morte e a Morte de Quincas Berro D´Água (assim mesmo duplo!). Os direitos que foram vendidos a Warner estavam prestes a terminar agora quando resolveram fazer o filme meio às pressas (no que acabou sendo o ultimo papel grande do saudoso José Wilker, que esta competente num personagem que resulta ingrato, embora tenha razão no que afirma, parece impertinente e briguento).
Basicamente seria sobre um sujeito que se diz Capitão de Navio da Marinha Mercante e que vai parar numa cidadezinha do litoral, sempre contando lorotas e causos dos mais absurdos. As pessoas da cidade acreditam nele e nos casos românticos que ele descreve, apesar de Wilker fazer de tudo para voltar documentado e provar que ele mentia. Então o filme tem um primeiro ato, depois um outro, muito longo, que mostra toda a saga do Capitão tentando conseguir seu título, com ajuda de amigos e finalmente um desenlace que ao menos é divertido e inesperado.
Embora seja irregular em tudo, mesmo em efeitos especiais (o diretor tenta unir a fantasias das lorotas com as pessoas que a estão ouvindo na mesma cena), o filme para mim teve certos prazeres. Fiquei contente em rever Patricia Pillar como uma charmosa mulher madura, em descobrir Jarbas Homem de Mello como um dos amigos do capitão (é um ótimo ator que fez teatro comigo e certamente é o melhor em musicais no Brasil, mas que ainda não teve sua chance antes em cinema e mesmo na TV). Em rever a linda Tainá Muller. Mas não com Claudia Raia no que é apenas uma figuração de luxo.
Muito desigual, o filme poderia ter melhor destino se fosse melhor lançado e customizado.