Por alguma razão, a distribuidora americana não quis colocar este filme na corrida do Oscar, com medo de que a interpretação de Al Pacino fosse rejeitada, acusada de excessiva, de overacting (no entanto, ele continua a fazer outros trabalhos, tem ainda inédito Manglehorn, 14, com Holly Hunter, Danny Collins, com Annette Bening, Jennifer Garner e Beyond Deceit, do americano de origem japonesa Shintaro Shimosawa).
Pacino aos 75 anos (agora em abril) parece em grande forma, com ótima aparência e incrível energia. Sua maior paixão continua a ser o teatro e mais especificamente os textos de Shakespeare, a quem tem dedicado e produzido com sua própria grana, filmes como Ricardo III Um Ensaio, ou Oscar Wilde, de quem fez uma versão de Salomé (com a então novata Jessica Chastain), seguido por um documentário sobre o tema. Chegou ao cúmulo de rodar um filme inteiro, Chinese Coffee, como experimento (e que saiu apenas num boxe em DVD).
Ou seja, essa paixão que não pode ser contestada. E fica muito clara aqui neste projeto, para o qual ele conseguiu uma equipe Classe A e assina também como produtor. O diretor Levinson é o mesmo que levou o Oscar por Rain Man, o roteiro Buck Henry é de a Primeira Noite de um Homem, a trilha musical do brasileiro Marcelo Zarvos e o texto original do livro do escritor de maior prestigio atualmente na America, Philip Roth. E ele está cercado por uma série de grandes atrizes ainda que em papéis pequenos.
O título seria sobre a humildade, como muitas vezes temos que ser humildes (ou até nos humilharmos). A história original é sobre um ator que esta envelhecendo, possivelmente perdendo a razão, enquanto tenta sobreviver se agarrando ao tempo e a perda e a mortalidade, diante das frustrações de envelhecer. Pacino faz um ator lendário Simon Axler, que começa se preparando para sua interpretação, finalizando a maquiagem, relembrando frases e entrando em cena para um total fracasso.
Quase suicida, ele é internado numa clínica, não melhora quando vai casa. Mas ao menos encontra uma moça, lésbica (Greta Gerwig), filha de um ator amigo e professor. Os dois começam um caso (no livro ela já passou dos 40, aqui ainda não chegou aos 30). Curiosamente o filme tem bastante a ver (inclusive no final) com o atual Birdman, que é também sobre um ator e a dor de representar. Ainda que em tons diferentes. O texto aqui é mais pesado, com menos alivio cômico, menos tour de force. Mas já deixa claro que este é um filme para os mais velhos e experientes, apaixonados por teatro e por Pacino. Por que para mim, velho admirador, o achei até contido, acompanhei com atenção sua trajetória e até me comovi com o trabalho, ou talvez possamos chamar de exercício. Infelizmente não será todo mundo que vai pensar o mesmo.