O que me incomoda neste filme mediano e super estimado é que basicamente é uma discreta denúncia de que existe corrupção na Rússia. O que tem provocado polêmicas e ameaças. O que deixa tudo ainda mais ridículo. Não se sabe o que o ditador local vai dizer, porque vai depender de seu interesse, não quer atrapalhar agora as chances que o filme tem de levar o prêmio. Se ganhar vai aumentar a fama e prestíigio (faz décadas que a Rússia não ganha um Oscar®, parece que desde Moscou Não Acredita em Lágrimas, de 1980, que por sinal era um melodrama de duvidosa categoria). Isso já dá uma ideia do que é o mundo de hoje (mas você teria que estar vivendo num asilo sem jornais para não perceber isso!). Enfim, não embarquei no filme, na verdade dos cinco candidatos ao Oscar é o único que eu rejeito. Mas sempre deixo a dúvida, não sou dono da verdade.
Quem fez o filme foi Andrey Zvyagintsev que também é roteirista e ator, nascido em 64, ficou conhecido antes com outro filme, The Return (03). Seu primeiro longa, chamado de O Retorno, um filme com imagens muito fortes (mais que aqui) passado num lago distante, sobre dois irmãos pré-adolescentes em férias que estão aprendendo a conviver com o pai que não viam há 12 anos quando uma coisa importante acontece que faz a situação mudar. Talvez para sempre. O que sucedeu porém é incrível. O filme só teria sido feito se achassem dois garotos excepcionais, no sentido de ótimos. Acharam Vladimir Garin em São Petesburgo e Dobronravov em Moscou.
O menino que fazia Audrey deveria morrer pelo script. Mas o garoto Vladimir morreu em 25 de junho de 2003 logo depois de concluída a filmagem, isso num lago perto da locação. O choque foi tão grande (porque o menino era ótimo e sua interpretação tão forte, que eles esconderam a morte até a estreia do filme em Veneza. É de cortar o coração!).
Nada que se compare com aqui. Rodado em Teriberka, Murmansk em Oblast, Monchegorsk. Também lá, Kirovsk, idem, e Apatity, idem. Ou seja, o filme tem sido visto como uma parábola, onde um operário que tem uma bela casa no Mar Barents tem que enfrentar um político (corrupto) que deseja a casa para ele. Igreja, judiciário, governo, se unem para roubar daquele homem a melhor coisa que tem e preza. Enfim, veja e julgue.