Crítica sobre o filme "Dois Dias, Uma Noite":

Rubens Ewald Filho
Dois Dias, Uma Noite Por Rubens Ewald Filho
| Data: 05/02/2015

Não há precedente no caso Marion Cotillard. É uma jovem atriz francesa (nascida em 1975 em Paris) que era praticamente desconhecida nos Estados Unidos, até quando ganhou um Oscar® merecido por Piaf, um Hino de Amor,07. Mas já era veterana porque fez seu primeiro filme em 1994, L´historie Du garçon qui voulait qu´on l´embrasse, de Philippe Harel. Continuou fazendo fitas menores até Taxi 2 de Gérard Krawick, produzido por Luc Besson, que foi o auge de uma série de sucesso, voltando também em Taxi 3. O engraçado é que logo Hollywood a chamou para Peixe Grande e Suas Historias Maravilhosas (03), de Tim Burton, e com Audrey Tautou e Jodie Foster em Eterno Amor de Jean-Pierre Jeunet (04), Maria de Abel Ferrara, com La Binoche, 05, e outros filmes de rotina até outro filme internacional, com Russell Crowe, Um Bom Ano (A Good Year, de Ridley Scott). Depois irá trabalhar com seu companheiro Guillaume Caunet, também diretor, num filme mal recebido, O Ultimo Voo, de Krarim Dridi (09), pouco depois do imenso êxito de Piaf. Que lhe deu vários prêmios e o passaporte internacional: Inimigos Públicos (09), o musical Nine (09), A Origem (10) de Christopher Nolan, Meia Noite em Paris (11) de Woody Allen, Ferrugem e Osso (12) de Jacques Audiard  (que trouxe mais prêmios), Batman o Cavaleiro das Trevas Ressurge (12) de Nolan e Laços de Sangue (13), do marido Caunet, o recente Era uma vez em Nova York (13).Vieram ainda Tudo por um Furo, participação especial em comédia de Will Ferrell, agora é Lady MacBeth dirigida por Justin Kurzel.

Todo esse preâmbulo é para celebrar essa carreira fora de série que é capaz de sozinha corrigir injustiças. Depois de ser esquecida pelo Globo e Sindicato, Marion foi lembrada pelo Oscar®, que foi outra forma de fazer justiça com o filme que ela estrelava de ficou fora da lista dos indicados a filme estrangeiro (apesar de ser dos famosos e ilustres Irmãos Dardenne). Dois dias, Uma Noite acabou de lhe dar o prêmio de melhor atriz europeia, melhor atriz pelos críticos de Nova York e inúmeros outros.

Os irmãos Dardenne são belgas, Jean Pierre (1951) e Luc (1954), são muito consagrados por Cannes, onde já ganharam Prêmio do Júri ecumênico por este Dois Dias, Grande Prêmio do Júri (O Garoto de Bicicleta, 11), Melhor roteiro (O Silencio de Lorna, 08), Palma de Ouro (A Criança, 05), Ecumênico (O Filho, 02), Palma de Ouro e Ecumênico (Rosetta, 99). Seu estilo é austero, discreto, quase sempre com a câmera seguindo os personagens. Mas contam fatos humanos, que acontecem com gente do povo, sem sofisticação. Quase sempre classe operária, ou mesmo desempregados. Ou fora da lei.

Aqui pela primeira vez trabalham com uma estrela famosa, com Marion que está no auge do humanismo. Apenas uma mulher comum, Sandra, que perde seu emprego, pois outros trabalhadores da fábrica prefiram receber um bônus ao invés de mantê-la na equipe. Ela descobre que alguns de seus colegas foram persuadidos a votar contra ela. Mas Sandra tem uma chance de reconquistá-lo. Ela e o marido (Fabrizio Rongione) têm uma tarefa complicada para o final de semana: eles vão visitar os colegas de trabalho e convencê-los a abrir mão de seus bônus, para que o casal possa manter o seu emprego. Um trabalho ingrato e constrangedor, muito parecido com outros que já passamos na vida. Mas que nunca pensamos em ver no cinema.