Crítica sobre o filme "Abutre, O":

Rubens Ewald Filho
Abutre, O Por Rubens Ewald Filho
| Data: 15/12/2014

Não havia expectativa maior para este filme B que a primeira vista me tinha parecido ser a refilmagem americana do filme argentino Os Abutres (Carancho,  2010, de Pablo Trapero, com Ricardo Darin). É um drama inspirado em fatos reais que denunciava os advogados de porta de cadeia, que atendiam as vitimas de acidentes na madrugada. Segundo Darin, este filme provocou uma reação que fez com mudassem a lei. Agora só o governo pode atender os casos, não mais advogados vigaristas. Mas a semelhança termina aí.

Aqui são também criaturas da madrugada, fazendo um outro trabalho sórdido que felizmente ainda não chegou ao Brasil, mas não deve demorar. A julgar pela quantidade de crimes e assaltos e mortes, que somos obrigados a ver pela televisão gravados de alguma forma, por câmeras ocultas ou coisa que o valha. O segredo nos EUA é que eles não tem equipes para sair gravando na alta madrugada, então contratam equipes mínimas de amadores capazes de tudo que saem em busca dessas cenas pavorosas (é semelhante aos papparazi de Los Angeles, onde muitos deles são brasileiros) só que aqui em vez do escândalo preferem o sangue e a violência. O filme é a denúncia disso feito com empenho por duas pessoas. Primeiro o diretor Elroy (que é mais conhecido como roteirista, tendo escrito, entre muitos, O Legado Bourne, Gigantes de Aço, Tudo por Dinheiro e Freejack). Esta é sua estreia na direção aproveitando a chance de utilizar sua talentosa mulher de muitos anos Rene Russo (desde 92, ela retornou ao cinema recentemente na série Thor e ainda em forma apesar de já ter passado dos 50 anos). Mas a grande figura do filme é Jake Gyllenhaal, famoso por ter sido indicado ao Oscar® por O Segredo de Brokeback Mountain, mas depois ficou meio perdido sem saber que caminho tomar. Por este filme ele já foi indicado ao premio Globo de Ouro e Satellite, abrindo chances para o Oscar®.

Será difícil mas também um merecido reconhecimento a um trabalho muito sério e esforçado, onde ele construiu um tipo com todo o cuidado. Seu personagem Louis Bloom é um daqueles tipos perdidos na vida, mas ambicioso e sem escrúpulos, que desesperado por trabalho, vai numa televisão em crise se oferecer como cameramen com miniequipe para gravar assaltos ou acidentes que ocorrem na madrugada e podem render boas matérias. A questão é que não tem qualquer problema em trair colegas ou mesmo manipular cenas de crime, desde que lhe melhor resultado no vídeo e mais grana. Sua ideia foi fazer com que o personagem fosse uma espécie de coiote (bichos predadores da noite que existem a solta em Los Angeles, já que a cidade fica em grande parte no deserto). Assim desenhou seu rosto como o bicho, procurou piscar o mínimo possível e eu acho que ainda colocou algum tipo lente que deixou os olhos com outro formato. Tudo isso o ajudou a compor um tipo detestável e carismático e que torna este filme modesto um trabalho interessante e curioso.