O cinema brasileiro tem tido uma fase tão ingrata este ano em particular com tantas decepções de bilheteria de filmes de qualidade (injustamente rejeitados pelo público) que parece temerário estrear esta co-produção do ilustre Meirelles com um dos mais respeitados cineastas britânicos de sua geração, Stephen Daldry,que foi revelado por Billy Elliot, 2000, que no palco depois levou o Tony, seguido por As Horas, 02, o também premiado O Leitor (08) para Kate Winslet e seu mais fraco e inconvincente, Tão Forte, Tão Perto, 11, sobre 11 de setembro.
Parece que foi Daldry e a atração por garotos desvalidos (como se fez em Billy Elliot e de certa maneira também em Tão Forte), que teve a ideia de chamar simplesmente o mais admirado e bem sucedido roteirista britânico da atualidade, Richard Curtis (Um lugar chamado Nothing Hill, Quatro Casamentos e um Funeral, Simplesmente Amor e Questão de Tempo). Embora um mestre em comédia romântica não consigo ver a sua familiaridade com uma favela carioca e muito menos com garotos de rua criados com a ajuda de um padre americano (Martin Sheen, meio perdido) e uma jovem professora americana (Rooney Mara, desperdiçada). Para brasileiro que nasceu vendo o assunto e filmes sobre o gênero (com frequência feita por estrangeiros como o bonito Favela de Arne Sucksdorf) as ilusões e boa vontade foram ficando pelo caminho, de forma que é preciso mais do que boa vontade e poesia a la Orfeu Negro (do Carnaval) para ele se sustentar.
Então este filme muito bem feito, bem dirigido, vai esbarrar com uma plateia já cansada do assunto, por culpa da crueza do dia a dia, dos noticiários, das verdades cruéis que hoje nem mais são escondidas. E por mais que o cinema tentasse e faça uma tentativa honrosa, o buraco é sempre mais embaixo. Fica difícil engolir uma historia de ação, meio thriller, onde há fugas mirabolantes e uma fidelidade de três mosqueteiros entre os heróis. Ninguém mais se assusta em ver deputado corrupto (Stepan) ainda mais depois do atual filme de O Candidato Honesto. Nem medir o esforço de Selton Mello,ao se tornar o mais cruel dos policiais (mesmo indo contra tipo) nem de louvar novamente Wagner Moura, que aparece logo no começo do filme e aparentemente some. Felizmente ele reaparece para acrescentar detalhes à trama e esclarecer quem é aquela criança que necessita ajuda.
Uma coisa esplendida que é finalmente já como os americanos e os antigos italianos, atores infantis, muitos vezes encontrados na rua e na miséria, para viverem personagens autênticos e humanos. Os três garotos não sabem como nós que eles estão vivendo clichês de dezenas de outras fontes e conseguem sempre ter uma presença vibrante e convincente. O espectador que terá que perder sua desconfiança e deixar-se conquistar pelo filme, que se não é excepcional resulta bem feito e satisfatório. Embora eu tema que ele seja mais compreendido no exterior do que por estas bandas.