Crítica sobre o filme "Miss Violence":

Rubens Ewald Filho
Miss Violence Por Rubens Ewald Filho
| Data: 24/09/2014

Finalista na Mostra Internacional de São Paulo do ano passado. Vencedor do Leão de Prata de direção e da Copa Volpi de melhor ator para Themis Panou, no mesmo Festival. Concorreu ainda em Montreal e Estocolmo. Antes disso, o diretor havia recebido por seu único filme anterior, Without, 7 prêmios no 49o Festival Internacional de Cinema de Thessaloniki, na Grécia, com o qual também concorreu ao Festival Internacional de Cinema de Milão.

Agora estréia em São Paulo,esta historia sobre uma pré-adolescente que no dia de seu aniversário de 11 anos, Angeliki,  pula da sacada do quarto andar de seu apartamento e morre com um sorriso no rosto. Enquanto a polícia e o serviço social tentam descobrir a razão para o aparente suicídio, a família da menina insiste que foi tudo um acidente. Qual é o segredo que Angeliki guardou com ela? Por que sua família insiste em tentar esquecê-la e seguir em frente? Não venha procurar semelhanças com as antigas e estilizadas tragédias gregas de antanho. Este filme se inscreve num movimento local que os críticos estão chamando de Weird Cinema (Cinema Bizarro, ou Esquisito) porque tem determinadas características, como se fosse uma peça de Nelson Rodrigues (ambientes fechados de preferência) sem paixão, em que as pessoas se comportam como robôs, no limite do absurdo, as figuras se confundem, se evita trilha musical (aqui ao menos se abre com um canção de Leonard Cohen, Dance me to The End of Love, inspirada pelo Holocausto). E tudo isso deve deixar o espectador perplexo, variando entre a sensação de já ter visto algo parecido antes com a vontade de rir na hora errado.

O diretor teria declarado que essa criança seria o símbolo de muitas outras que tem de se submeter às regras de uma sociedade implacável, dura e sem esperanças, e que no filme recebe todo tipo de exploração e manipulação de um tipo de sistema que algumas pessoas ainda chamam de família. No enredo, há um pai, que como líder, que comanda e define as funções da família, de maneira muito semelhante aos usados pelos poderosos para manipular a sociedade, enquanto os outros membros da família, já não podem viver fora das regras estabelecidas por ele. O autor comenta: “Eu sempre me pergunto quem tem o poder: a pessoa que ataca ou o que sente a dor? A violência mais dura é a do silêncio. Do não dito. Da regularidade que encobre todo vazio emocional criado pelo exercício do poder”.

Talvez a análise mais interessante que possa fazer do filme é que ele é na verdade uma parábola política de toda a Grécia no seu momento pior de crise financeira, política, moral, sendo cada personagem podendo ser comparado com as diversas faces do país (governo, povo, juventude condenada pelos erros dos mais velhos). E como avestruzes todos enterram a cabeça na areia como se nada de ruim estivesse acontecendo. Adotando esse ponto de vista, o filme se torna sem dúvida mais acessível e curioso. Mas só para publico de arte.