Mais um filme nacional vítima da atual “síndrome de decapitação” (poderíamos até chamar assim), ou seja, lançar filmes brasileiros nas poucas vagas surgidas com a Copa do Mundo e a vontade de não lançar blockbusters (que perderiam seu poder de bilheteria). O excesso de títulos justamente disputando uns aos outros no pior momento ao menos deste ano para exibir um filme nacional. Isso é triste, mas são as regras do jogo e reclamar não vai mudar coisa alguma. Enquanto isso, este mais recente trabalho do polêmico e brilhante Sergio Bianchi, corre o risco de nem ofender os seus algozes, nem mexer nas feridas, ou sequer atrair os que como eu ainda se divertem e aplaudem sua incansável luta (não perfeita, claro, mas ao menos ainda reclama, denuncia, resmunga, as vezes até xinga). De tal forma, que este talvez seja o filme mais mal formato dele nos últimos anos, episódico , confuso, cheio de ideias interessantes que vão se perdendo pelo caminho. Sem a merecida conclusão.
O fato do próprio Sérgio afirmar que está confuso com o caos atual não ajuda muito o fato de que seu protagonista, Leandro, o normalmente confiável Fernando Alves Pinto, ganhou um personagem confuso, que balança entre diversas posições, que não se resolve como ser humano (deixa-se claro ser homossexual mas não se assume, nem em armário). Sua perplexidade varia entre a figura da mãe – a ótima Clarisse Abujamra, que finalmente parece ter sido descoberta pelo cinema, faz Marília, a mãe dele envolvida em ONGs e Partidos não muito claros, que continua a sustentá-lo enquanto ele tenta fazer seu pós-graduação e entender porque seu pai Jairo, já falecido (Pereio e em fotos mais antigos, o filho dele), chegou a ser preso, passeou por tantas posições, que agora não fazem mais sentido. Só que na verdade Sérgio acena com várias malesas de nosso tempo: assaltos a esmo, justiça pelas próprias mãos, a própria situação da mãe que briga por receber dinheiro por ter sido presa. E assim por diante. Ajudando também num canal de TV (mostrado de forma muito pouco realista) ao menos deixar o amigo negro tentar se exprimir (cabe ao veterano Silvio Guindane, ótimo ator infantil ter sua melhor interpretação dos últimos tempos como o amigo Rafael).
Mesmo o humor constante na obra de Sérgio desta vez fica num segundo plano. A ideia central é a busca de um filme que Jairo teria feito (para isso foi usado um dos primeiros trabalhos do próprio Sérgio, Maldita Coincidência, 79, que dá uma visão interessante da época). Mas mesmo o filme mostrado em parte ao final também não revela nada de novo ou acrescenta aos fatos. Talvez a situação atual esteja realmente tão caótica e confusa que o próprio diretor nem soube rir ou criticá-la com mais sabedoria!