É bem possível que você já tenha visto este filme na televisão até porque Filho de Deus é apenas uma versão caça níquel de parte da serie A Bíblia que passou nos EUA no History Channel e aqui na Record. Feito para a TV significa que estica um pouco a história mostrando o Genesis, com Adão e Eva e a Noé e sua arca (nunca porem enfatizando o fato de serem judeus, porém grande parte dos atores são dessa fé ou origem). Como foi bem sucedido na TV resolveram também exibi-lo nos cinemas pensando no lucro que teriam (e acertaram, rendeu apenas nos EUA 59 milhões de reais).
Este é um caso claro de pregar para os convertidos, e resume-se na conclusão: se você é Cristão, certamente já está preparado para gostar do filme. E pronto, qualquer crítica fica sem sentido. Os outros melhor se absterem. Foi realizado por um diretor especialista em documentários, Christopher Spencer, que fez trabalhos desconhecidos aqui como O Último Vôo do Concorde, O Corpo Humano, Lusitana: Assassinato no Atlântico. Nenhum deles o preparou para fazer um filme de ficção. Tudo aqui transpira a origem. Há um excesso de closes, de planos próximos que chega a ser insuportável numa sala de cinema. O filme é mal fotografado, resultando escuro, com péssima direção de arte, figurino inexistente (quando se pensa no que fez Scorsese em A Ultima tentação de Cristo ou Zeffirelli em sua Paixão, digo em termos de visual, de qualidade de imagem, de encenação, este chega a ser de uma pobreza realmente franciscana, feia, pobre. E isso fica ainda mais claro pela constante narração de uma voz em off!).
Difícil reunir um elenco de tão má qualidade nem tanto por não serem famosos, mas pela incompetência mesmo. O Problema do protagonista é que escolheram um rapaz bonitão, que só os mais experientes notarão que é muito parecido com Jeffrey Hunter, que estrelou O Rei do Reis de Nicholas Ray (foi o primeiro Cristo do cinema a mostrar sua cara, antes por respeito ele era fotografado de lado, de longe, de costas). Só que Hunter ainda por cima tinha olhos azuis luminosos. O ator aqui é como se supunha pelo nome um português chamado Diogo Morgado, que como disse um crítico americano na primeira parte apenas desfila, com uns inadequados sorrisos fora de hora. Original seria se tivessem feito Cristo um africano ou um semita ou árabe. Mas não é esse tipo de filme, já esta claro. Então se acostumem a história ser composta com os melhores e mais famosos momentos de sua vida (se não chega aos exageros de violência do cristo de Mel Gibson, não deixa de ter certas cenas de morte e crucificação, o que é pior, muito mal realizadas).
Quem faz Maria é a senhora Roma Downey (conhecida por Um Toque de um Anjo), que não por coincidência é casada com o produtor do show, Mark Burnett. O problema não é ela, que mal aparece, mas o resto. Não dá para acreditar nos diálogos ruins, no comportamento das massas e coadjuvantes, na narrativa toda entrecortada como se fosse um blockbuster sem grana. Qualquer Paixão de Cristo no nordeste pelo menos fica mais verdadeira e sincera. O rapaz Morgado é esforçado, mas não tem fôlego ou peso para o personagem. Não há também qualquer controvérsia, Maria Madalena esta por lá, mas não se toca no assunto.
Enfim, o filme é o que é. Feito para o que pretende.