Crítica sobre o filme "Hoje Eu Quero Voltar Sozinho":

Rubens Ewald Filho
Hoje Eu Quero Voltar Sozinho Por Rubens Ewald Filho
| Data: 01/04/2014

Vencedor do prêmio da crítica (na Mostra Panorama) e o Premio Teddy (para o melhor filme gay) do recente Festival de Berlim, este primeiro longa de Daniel  Ribeiro já chega com a reputação de seu diretor que fez dois curtas temáticos muito bem sucedidos e que estão disponíveis no You Tube. Café com Leite (07), premiado como melhor curta também em Berlim, prêmio Cinema Brasil, Miami e Paulínia entre outros, sobre a relação de casal gay, onde um deles tem que cuidar do irmão pequeno. Logo depois ele acertou novamente com outro filme que é uma pequena joia, chamado Eu não quero Voltar Sozinho (2010), mais premiado ainda (Mix, Paulinia novamente, Torino, Seattle etc.).

Reparem no detalhe importante: no curta o protagonista cego e adolescente não quer voltar para casa sozinho. No segundo e longa, já mudou de ideia. De qualquer forma, é uma extensão do original com o mesmo elenco, o que é certíssimo, já que estão todos naturais, simpáticos e eficientes. Tanto num quanto noutro. Trabalhando com grande parte de amadores o resultado é totalmente convincente.

Admito que possa ser até impressão errada, mas a gente fica com a sensação de que prolongado o filme perde parte de seu encanto. Talvez seja ausência de surpresa, o inusitado que não esta mais lá. Ainda assim será difícil não embarcar nesta situação, graças me parece à naturalidade e simplicidade com que o elenco é conduzido mesmo quatro anos depois. O diretor tem mão para cinema e sensibilidade que fica mais do que evidente ao descrever a personalidade do protagonista Leonardo (Lobo) que é um adolescente cego, que vive com os pais restritos que tentam não serem controladores demais. Com raras visitas a avó (um prazer ver Selma Egrei sempre linda e serena). Tem uma melhor amiga ciumenta, Giovanna que frequenta a mesma escola e Leonardo sofre bullying  por parte de colegas por ser deficiente (uma coisa que acho difícil acontecer naquele tipo  de escola, o rapaz perseguido por esse problema mas não por ser gay!).

Enfim, a situação toda é criada aos poucos, quando surge Gabriel um novo aluno do interior que se junta a dupla e com relutância também se sente atraído por Leonardo. No desenvolvimento da relação, o personagem de Gabriel se explica pouco (acho que falta um pouco mais de conflito para dar mais força ao entrecho).

Tudo isso, porém não abala o fato do filme ser tão ”gostável”, tão bem realizado e sucedido. Chamá-lo do melhor filme gay já feito no Brasil seria reduzi-lo injustamente. Prefiro apostar no talento do diretor que tenho certeza fará uma bela carreira.