Crítica sobre o filme "Imagem Que Falta, A":

Rubens Ewald Filho
Imagem Que Falta, A Por Rubens Ewald Filho
| Data: 20/02/2014

Há muitos anos que o comitê de seleção de filmes estrangeiros da Academia de Hollywood não selecionava documentários de tal forma que eu achava que eles haviam sido relegados à outra categoria. É uma surpresa encontrar este filme autobiográfico do diretor mais conhecido do Cambodja Rithy Panh que com este filme ganhou o “Um Certain Regard” de Cannes ano passado. Um assunto que ele já abordou durante sua carreira (em geral em documentários) porque até hoje ainda é muito pouco conhecido o massacre do Khmer Vermelho no Cambodja. O diretor tinha apenas 11 anos em 1975 quando viu sua família ser vitima do processo de renovação de um governo, que imitando a Revolução Cultural chinesa, queria limpar tudo de que existia de urbano e burguês na sociedade cambodjiana. Como o mundo estava ocupado demais acompanhando a Guerra do vizinho Vietnã, poucos se deram conta até hoje da tragédia (um dos poucos filmes ocidentais a relatar o caso foi Os Gritos Do Silencio, The Killing Fields, 84 de Rolland Joffé).

Rithy Panh optou pela simplicidade, até porque infelizmente este foi um holocausto sem registro cinematográfico. O filme aproveita algumas imagens em preto e branco de documentários que fotografaram alguns momentos esparsos e não especialmente significativos (não esqueçam que não existiam as câmeras de hoje, muito portáteis). Nem material do governo porque iria justamente contra sua forçada busca da simplicidade. O fato é que com o diretor viu sua família ser toda exterminada, seu irmão, seus pais, seus primos, todos vítimas da crueldade do Khmer (calcula-se que foram assassinados vinte por cento da população do pais). Um Genocídio pouco denunciado até hoje que o diretor optou por mostrar de forma singela, utilizando  bonecos esculpidos em argila como se fossem de um presépio. Não há violência explícita, apenas a voz suave de um narrador que denuncia os fatos e relembra os desmandos. Que são de tal ordem porém que ficamos com vontade de ter mais detalhes e compreender como isso pode suceder (e será que neste momento não ocorre algo semelhante  em outros lugares do mundo?).