O Brasil é um país muito esquisito. No ano em que se derrotou ainda que parcialmente a Homofobia e foi liberado o casamento para pessoas do mesmo sexo, o máximo que a televisão conseguiu fazer a respeito foi inventar o personagem de Crodoaldo Valério, uma triste caricatura e a mais recente presença de Felix, que não é exemplo para ninguém. Mais estranho ainda é que alguém tenha inventado transpor Crô para o cinema e entregá-lo nas mãos de Bruno Barreto, sem dúvida um cineasta competente, mas cujo ponto fraco sempre foi o senso de humor. Vide sua experiência americana no gênero, como Voando Alto (03). Depois ele fez O Casamento de Romeu e Julieta, 05, que era bemsucedido porque teve o bom senso de chamar para ajudá-lo os mestres da comédia Jandira Martini e Marcos Caruso. Aliás, prova da qualidade de Bruno temos no recente e delicado Flores Raras.
Tivemos também faz pouco, a experiência de Giovanni Improta, uma comédia (melhor que esta por sinal) que tentou ressuscitar um personagem que veio de uma novela de 2004 e estava completamente esquecido. Crô é mais recente o problema é que fizeram um drama sobre tráfico de escravas brancas bolivianas que são contrabandeadas para virem trabalhar no Brasil em fabricas de roupas, numa espécie de trabalho escravo. Então está denúncia que poderia ser oportuna noutro tipo de filme acaba sendo a narrativa mais importante (porque acompanhamos a pobre sofredora da mãe e sua filha pequena, que tenta fugir de maneira absurda. E uma morte importante acontece fora de cena! Talvez porque não se mate ninguém em comédia, perceberam eles tarde demais!). Enquanto seguimos o drama dessa gente e temos que engolir dois vilões fora de ordem (Milhelm Cortaz ainda está de acordo com os personagens que faz, mas Carolina Ferraz dando uma de Cruela de Vil é outro equívoco).
É verdade que eu não assisti a telenovela e por isso alguns detalhes me escapavam (mas pessoas gentis me informaram depois porque a foto de Christiane Torloni, aquela história de Deusa- outra vítima, Ivete Sangalo, mal maquiada e fotografada fazendo a mãe de Crô, a ligação com seu motorista, que não consigo entender vive o insultando e todo mundo acha normal!). Conheço o Marcelo Serrado principalmente daquele bom trabalho em Malu de Bicicleta, 2010, com que foi premiado em Paulínia. Só que no filme que deveria ter sido dele, o coitado passa o tempo todo fazendo caras e bocas, ou seja, tenta fazer comédia quando nada o ajuda. A história é absurda, o roteiro mal desenvolvido, o personagem se torna patético diante da besteira de querer arranjar uma noiva (seu homossexualismo é tratado de passagem, um grandão divide a cama com ele, mas é pura caricatura como se fosse feito para o público não se ofender ou pensar nisso). Este ano tivemos uma safra irregular de comédias, e sintomaticamente as que deram maior bilheteria foram quase todas as melhores. Não acredito que este seja perdoado. Não porque é ofensivo, apenas porque não tem nenhuma graça.