Permitam-me ser mais pessoal que costume. Conheci o Alberto Araujo numa das primeiras idas a Goiânia, onde ele mora e trabalha. O reconheci como apresentador e produtor de um programa de turismo da Rede TV na época em que andei por lá e acabamos ficando amigos e sabendo que planejava um filme. Eu o incentivei e fiquei admirado que com pouca experiência de cinema propriamente dito (tem uma produtora de vídeo e programas) ele sabia exatamente o que queria. Como bom mineiro, apaixonado pela poesia, se dispôs a fazer um filme que nem sabia que era contra a Maré. Embora seja de baixo orçamento ninguém imagina isso. A fotografia é muito bonita e não tem medo de mostrar paisagens de Uberlândia, Brasília e principalmente de Araxá, todos os ambientes são muito bem cuidados e o elenco é de primeira linha trazendo a melhor interpretação de toda a carreira de Murilo Rosa que está cercado por alguns dos grandes atores nacionais, Lima Duarte (maravilhoso como sempre), Bete Mendes (aparece pouco, mas a cena em que diz trecho de poema é um primor), mesmo a novata Larissa Maciel, que é só doçura.
Ou seja, ter orçamento baixo não obriga o filme a ser pobre. Desde o começo Alberto queria contar essa história do cantor popular (as letras das canções também são dele) que está em conflito com seu pai que é um embaixador veterano provocado ainda mais pela morte da mãe, num acidente de aviação (ele tinha enviado o jatinho para busca-la para assistir um show dele). Uma tragédia que ajudou a provocar a separação entre pai e filho por muitos anos. Agora o rapaz procura a reconciliação no embalo das canções (já que prepara show). É quando entra a grande figura de um dos maiores atores brasileiros que é Othon Bastos, fazendo o pai com uma incrível humanidade. Não que não tenha possíveis falhas pontuais, mas acho que acerta no principal. Faz tempo que não vemos um filme brasileiro falando de coração para coração.