Não há dúvida que o que há de mais novo e interessante no cinema brasileiro recente tem vindo do Nordeste, mais especificamente do nascente e crescente cinema de Recife. Não conhecia pessoalmente todo os líderes do movimento, mas tive ótima impressão quando os entrevistei para um novo programa da HBO. São inteligentes, bem-humorados, criativos, de ideias e propostas variadas ainda que quase sempre convergentes. Bem sintetizada pela figura deste Hilton Lacerda, que é aqui diretor estreante de ficção (fez antes documentário sobre Cartola), mas foi co-roteirista de quase todos os filmes marcantes do movimento (desde o pioneiro Baile Perfumado, passando por Árido Movie, Amarelo Manga, A Festá da Menina Morta, claro que não é deles, mas vale como referência, A Febre do Rato). E também pela figura do astro do filme que é o Irandhir Santos, um ator brilhante que tem sido consagrado por suas participações marcantes em O Som ao Redor, Febre do Rato, Tropa de Elite 2, Olhos Azuis.
Seu desafio desta vez é interpretar um homossexual assumido, Clécio (melhor dizendo bissexual já que vive com mulher e tem filho, melhor mesmo seria não classificá-lo). A história se passa durante os anos da repressão política da ditadura, quando alguns atores dedicados se apresentam num grupo de vanguarda que provoca polêmicas, com suas encenações ousadas em todos os sentidos. O filme na verdade tem algo libertário que tem conquistado a crítica e o público (gosto particularmente do jovem ator Jesuita Barbosa, que faz o recruta do exército, que tem que enfrentar seu despertar sexual e o ataque de um colega).
Parece também que uma nova geração de talentos começa a surgir por lá e o filme é sua primeira explosão. Vamos ver como vai reagir o público no momento mal-acostumado apenas com comédias digestivas.