Fez bastante sucesso nos Estados Unidos este filme B pretensioso a ser ficção - cientifica e terror, mas que custou apenas 3 milhões de dólares e até agora rendeu 85 milhões (no mundo todo) e já tem até continuação planejada. É apenas o segundo longa como diretor de James DeMonaco que fez antes Cidade do Crime/Staten Island (com Ethan, Vincent D´Onofrio, 09) e escreveu roteiros de A Negociação, 98 de Gary Gray, com Samuel L. Jackson, Assalto a 13ª Delegacia, 05, de Richet, com Ethan, além de séries de teve.
Acho difícil alguém de cara lavada aceitar o ponto de partida. Segundo o roteiro, num futuro próximo acabaram-se as guerras e conflitos de violência e por isso o governo instituiu o que chama de Purgação. Durante 12 horas da noite ficam cancelados os serviços de polícia, de emergência ou assistência hospitalar. Todos devem se fecham em casa, na maior segurança possível, porque nessas horas tudo será permitido, qualquer abuso ou assassinato. Claro que o mundo só piorou de violência em toda parte, guerras assumidas ou não, guerras civis, manifestações de rua até no antigamente adormecido Brasil, roubos, estupros e assim por diante. Basta ligar qualquer insuportável noticiário de teve. A ideia, portanto, é no momento ao menos risível, improvável e chega mesmo a ser ofensiva essa ideia de uma noite onde todo crime é legal e sem punição. Já não é assim mesmo por aqui?
Felizmente o filme é muito curto e nas mãos de um diretor mais competente poderia ter sido um exercício terrível em pavor. Não sei se foi boa ideia adotar um estilo satírico. Terá sido uma ideia do seu produtor Michael Bay ou da turma também presente que fez Atividade Paranormal ? O fato é que fica difícil encontrar algo de novo no gênero “família em perigo é dominada por bandidos que invadem sua casa” (e eu me lembro bem de ter ficado impressionadíssimo como primeiro que assisti no gênero, Horas de Desespero de William Wyler, com Bogart, Fredric March ainda nos anos 50). Hoje há invasores de todos os tipos inclusive os do Espaço Sideral, o que torna mais difícil a originalidade (aqui eles usam, mascara o que faz logicamente lembrar V de Vendetta e o recente The Strangers/Os Estranhos de Bryan Bertino) que acertava em manter os detalhes externos ao mínimo enquanto aqui, massacra a gente com notícias da televisão.
A ação se passa em 2022 e o crime e pobreza diminuíram muito desde que subiu ao poder dos “Novos Pais Fundadores” (parece que em 2014) logicamente uma referência bem clara ao grupo de republicanos chamados de “Tea Party” que tiveram a ideia da Purgação em 21 de março. Onde matar pode ser visto até como dever patriótico. O herói do filme é Ethan que faz um especialista em segurança particular e que por isso colocou na sua mansão o que havia de mais moderno no gênero. A confusão começa quando a família dá abrigo a um homem sem teto (Edwin Hodge) que foge de um linchamento liderado por um tal de “Estranho bem educado, dizem os créditos), na verdade um bando teen. Ao menos o diretor não tem problemas em creditar suas influencias obvias que são Sob o Domínio do Medo de Sam Peckinpah (recém refeito) e Assault on Precint 13 de John Carpenter (que o próprio Monaco refez há algum tempo). Outros críticos lembraram histórias parecidas em O Quarto do Pânico de David Fincher, Obsessão Fatal, Unlawful Entry, de Jonathan Kaplan e o mais recente Lakeview Terrace /O Vizinho de Neil Labute. Também essas concessões ao crime já eram velhas quando fizeram o primeiro Rollerball (podia-se matar no esporte) ou em Jogos Vorazes e remontam aos gladiadores romanos.
O fato é que se mostra muito pouca coisa fora da mansão e não chega a ser tão violento quanto se temia (ainda bem!). É sempre alegoria e a figura no negro enfatiza isso. Tem robozinhos de proteção e menino adolescente esquisito. A princípio achei que era menina, mas a ação dele ajudar o fugitivo é de uma estupidez insuportável, só comparável com a filha da família que resolve transar com o namorado justamente naquele dia e hora! Se for para satirizar a tradicional hipocrisia da classe média não funciona. Porque felizmente isso vai ficar muito mais engraçado ainda que sempre improvável quando outros entram na dança (não posso dizer quem, mas considerando minha visão negativa do ser humano achei até bem colocado!). De qualquer forma personagens importantes são eliminados cedo e uma reação contra uma pessoa loira servirá de alivio para a ausência de um final muito feliz, mas ainda acho que é uma fitinha B sem vergonha.