Crítica sobre o filme "Trem Noturno para Lisboa":

Rubens Ewald Filho
Trem Noturno para Lisboa Por Rubens Ewald Filho
| Data: 21/10/2013

Só pelo elenco dá vontade de assistir este filme, mas eu aconselho a deixar passar em branco, não vale ver nem mesmo depois em casa, por acaso. Faz tempo que já se desistiu do diretor Bille August (que acertou no tempo de Pele, o Conquistador e deve ter gostado tanto de Lisboa, onde rodou A Casa dos Espíritos que aceitou retornar aqui num projeto furado, que lembra os filmes multinacionais feitos nos anos 80 que eram chamados de Euro Pudding (porque embora se passassem em determinado país, não se usava a língua local e o elenco de origem diversa, usava o inglês com sotaque e algumas palavras de português de Portugal e uma menção rápida de Brasil, melhor dizendo Amazonas). 

Talvez o livro faça mais sentido porque a palavra escrita joga com a imaginação, mas quando encenado fica difícil ter alguma lógica a absurda história de um professor suíço de Berna (Jeremy Irons, cuja idade o humanizou) que salva uma moça que vai se jogar de uma ponte. Depois descobre no casaco dela, um bilhete de trem noturno para Lisboa e um livro de um certo Almeida Prado, que tem citações pseudo filosóficas que o deixa intrigado (embora sejam frases feitas como “existe um segredo debaixo da superfície da atividade humana? Se nós realmente apenas vivemos uma parte do que temos dentro de nós, o que é que acontece com o resto?”. Só que no final das contas a trama não é sobre o sentido da vida, mas a denúncia da ditadura de Salazar (nem se menciona o nome dele direito) e a repressão que prendia, torturava e matava aqueles que faziam parte do que se chama no filme de Resistência (como nos filmes franceses feitos pelos americanos ). 

Assim nosso herói vai de pergunta em pergunta fazendo amizades (há pouca ou quase nenhuma ação), chegando mesmo a conquistar um absurdo interesse romântico. Como filme político, suspense ou aventura, o filme é totalmente nulo. A única possível qualidade é a presença de um elenco internacional curioso que inclui Christopher Lee quase centenário, o jovem Jack Huston como o Almeida (é neto do diretor John Huston), a charmosa francesa Melanie Laurent (Bastardos Inglórios) e depois mais velha fazendo o mesmo personagem, Lena Olin (mulher do diretor Lasse Hellstrom), o excelente britânico Tom Courtenay, o alemão Bruno Ganz, a inglesa Charlotte Rampling, a alemã Martin Gedeck. Todos em papeis menores do que mereciam. Ah, sim, Lisboa continua fotogênica e adorável.