Crítica sobre o filme "Diana":

Rubens Ewald Filho
Diana Por Rubens Ewald Filho
| Data: 15/10/2013

Assisti ao filme no dia na estreia em São Paulo, junto com outras 20 pessoas indiferentes e acabei achando que os críticos europeus que eu citei na matéria de apresentação foram é generosos. O principal defeito do filme não é parecer telefilme (mesmo porque hoje em dia com a alta qualidade do que é feito para a televisão a comparação já não tem cabimento). Simplesmente ele é extremamente chato, aborrecido, uma história de amor repetitiva, sem nenhuma emoção e prejudicada além de tudo por um galã feio e mau autor (estou supondo que ele foi poupado porque o britânico/hindu Naveen Andrews, era muito querido por sua participação na série Lost e se alguém ainda lembrar em O Paciente Inglês ao lado de Juliette Binoche, mas aqui está inexpressivo, chega a ser irritante e nada carismático). Perderam uma grande oportunidade de fazer uma boa biografia de uma figura lendária do fim do século passado, mas talvez por medo de algum processo ou retaliação da Família real, o filme simplesmente não mostra praticamente nada da vida dela dentro da Realeza. Já começa quando está separada e vemos apenas de longe um flagrante dela chegando de férias com os dois filhos. Nada mais. Não tem rainha, não tem marido infiel. A surpresa para mim foi não apenas o caso dela muito sério e até longo com o médico paquistanês (obviamente não me dei ao trabalho de ler as biografias, Diana não fazia cinema), mas como ela teria sido manipuladora da imprensa, a ponto de ligar para os editores de revistas e jornais e estabelecer regras. Ou seja, era inteligente, mas também fria, a ponto de marcar e fazer uma entrevista na televisão chutando o pau da barraca, sem que os auxiliares soubessem. E para qual ensaiou diante do espelho. É o único momento onde se fala nominalmente da amante do Principe Charles, com quem hoje ele é casado e perdoado (nem por isso o mundo inteiro se cansa de achá-la feia, medonha mesmo. E culpada pela separação. Sendo claro: o drama maior da vida dela que seria o que sofreu na mão da sogra Rainha e dos burocratas dos palácios não é mostrado, tudo é reduzido aos dois últimos anos de sua vida). 

O fato é que mostrar Diana usando Dodi Fayed a deixa manipuladora (o filme começa na noite da morte em Paris, mostrando a cena pelo ponto de vista dela, no hotel luxuoso em que está e sua relutância em ir embora, preferindo esperar pelo telefonema do médico, estava brigada com ele naquele momento, mas o filme mostra e remostra as idas e vindas do casal inúmeras vezes. Acho o começo até interessante embora esteja já cansado de ver filmes atuais com câmera na mão que insistem em acompanhar os personagens pela casa, é o maior clichê atual do cinema! Ah, naturalmente a cena é repetida ao final embora não se dignem a mostrar as circunstancias do acidente. Eu jantei em Paris uma vez com o médico brasileiro que a atendeu (era noivo de uma amiga minha) e comentou comigo as circunstancias tremendas da perseguição e acidente, culpa sem dúvida dos paparazzi sem escrúpulos. Tudo isso teria provocado ainda maior impacto na parte final. Do jeito que está a falta de expressão de Naveen na hora que vai entregar o ramalhete de flores chega a ser insultuosa para o espectador. Todo mundo triste e ele com cara de nada.

Acho importante também mencionar a sequência das Minas (Diana fez campanha aberta e de grande repercussão contra o uso de minas terrestres que faziam vítimas inocentes) até porque ao final são fornecidos dados sobre as consequências quando tanto coisa mais é omitida (ah, outra coisa, não se qualquer sinal da família dela! Como se não existissem).

A escolha de Naomi Watts para ser Diana se limitou a copiar penteados e figurinos (poucos na verdade em geral está informal) e lhe dar um nariz postiço (mesmo assim bem menor do que da verdadeira, devem ter tentado e achado que ficaria longo demais, enfeando a atriz. Preferiram a fantasia. Diana não tinha a cara que lhe dá Naomi, mas em compensação é uma figura simpática, uma atriz sempre eficiente e a única pessoa a sair ilesa desta infelicidade). Outra coisa para quem tem má memória, a única amiga intima que ela tem e que se chama Sonia nos créditos (feita por Juliet Stevenson, que não tem sua beleza ou discrição) na verdade é uma brasileira que era a mulher do Embaixador brasileiro em Londres na época e que foi sua melhor amiga até o fim. Sendo que continuou discreta mesmo depois de sua morte (um gesto sem dúvida admirável).

Falta falar mal dos diálogos que são com frequência risíveis. E da escolha do diretor, chamar um alemão para tal história é porque já estavam querendo errar. O Hirschbiegel tinha feito antes biografia de Hitler (A Queda), dramas pesados (A Experiência) e tinha errado em Hollywood ao tentar suspense/terror com Nicole Kidman (Invasores). Não era a pessoa indicada para fazer um drama romântico para o público feminino chorar.

Não é que o filme Diana seja tão ruim, é simplesmente entediante e interminável.