Crítica sobre o filme "Lore":

Rubens Ewald Filho
Lore Por Rubens Ewald Filho
| Data: 10/10/2013

Este foi o filme oficialmente escolhido pela Austrália para representar o país no Oscar de produção em língua não inglesa (aqui é basicamente o alemão e co-produção incluiu Escócia, Alemanha, Inglaterra) e que teve vários prêmios e indicações, os mais notáveis o de público no Festival de Locarno, melhor direção do Sindicato dos Realizadores da Austrália, melhor música na Bavária, direção e revelação de atriz Saskia, pelos críticos da Austrália. 

A minha primeira sensação vendo o filme foi que já assisti essa história antes e algumas vezes mesmo, principalmente feita por franceses, igualmente competentes. Por outro lado, não há regra que obriga ninguém a ser sempre original, o que naturalmente é impossível. Feito por uma diretora (nascida em 68), que entre longas, séries de teve e curtas, tem 7 outros trabalhos (o outro longa é Sommersault, 04, que me parece inédito aqui apesar da presença de Sam Worthington de Avatar e Abbie Cornish). Ela caminha por território conhecido, usando as armas conhecidas de outros filmes do gênero, câmera na mão (e à moda da Jayme Monjardim uma trilha excessiva e exagerada). Muito close, e apesar do tema, mostra sem discurso ou exageros. 

A ação se passa na Alemanha no fim da segunda Guerra quando a família da jovem Lore é obrigado a fugir com quase nada porque os americanos estão próximos e não se explica bem, mas o pai era oficial nazista (não do alto escalão, pelo jeito dele e do uniforme, era menos importante, mas mesmo assim eles tem documentos para queimar, sinal que alguma culpa tem no cartório. Provavelmente porque trabalhava com ou num campo de concentração. Além de Lore, temos dois gêmeos e outra irmã mais velha, a mãe (todos loirinhos e com cara de folhinha suíça). Basicamente o tema é clássico: a perda da inocência. Numa longa caminhada pela Florestá Negra em direção a casa da avó, os mitos vão se desmoronando diante das mortes, estupros, os abusos, o encontro com outros fugitivos, a necessidade de comer e roubar. E a também sempre presente despertar da sexualidade. 

De uma certa maneira é um filme de estrada, mas como já disse pouco se explica nem mesmo ao final. O que me incomoda bastante ainda mais quando li uma crítica de um americano, que tentava comparar o que sucedeu com os nazistas e seus crimes (que poucos sabiam a extensão na época) com o que sucede hoje em dia, quando se cometem crimes de igual calibre, de forma anônimo, por vezes até mais cruel, massacres sem dono que ninguém quer assumir. É o que passa Lore, a negação, o “denial”, não se pode acreditar que se viva num pais que cometa esses atos e crimes. Ou abusos ou absurdos. De uma certa maneira, portanto, todos nós somos Lore.