Crítica sobre o filme "Mato Sem Cachorro":

Rubens Ewald Filho
Mato Sem Cachorro Por Rubens Ewald Filho
| Data: 04/10/2013

Como fã de comédia fico sempre ansioso para acompanhar o resultado dos últimos exemplares do gênero. Prefiro ver com o público e não em pré-estreias (riso precisa ser contagiante) e fico assustado com alguns recentes equívocos (como o de Se Puder... Dirija, talvez o pior uso do sistema 3D da história do cinema). E preocupado com o resultado deste projeto que tinha tudo para dar certo. Começando pela reunião da dupla Leandra Leal (ela certamente a atriz de sua geração mais talentosa, mas que faz bem em passar o encanto e charme de seu tempo de humor) e o simpático Bruno Gagliasso, sempre melhor ator do que costuma admitir, por causa do preconceito da televisão.

O problema número um é que o filme se anuncia no título e no pôster como se fosse uma comédia na linha de Marley e Eu, sobre os problemas de um casal e seu bicho de estimação (contando com cachorros importados e impecavelmente treinados). No caso, o bicho é particularmente fofo quando jovenzinho, até porque tem uma doença (não sei se verdadeira) que seria a narcolepsia animal (nos momentos de grande emoção, ele desmaia! E de grande jubilo fica saltando). Até ai tudo bem, o filme começa criativo e animado, com muita influência americana no uso de trilha musical, no tipo de montagem e até na filosofia muito falsa de que “o importante é a família” palavra de ordem de tudo que é fitinha americana e profundamente falsa na cultura deles (o diretor estudou por lá e nada de mal nisso). Só assim que se fica sabendo que se trata de uma comédia romântica, disfarçada de chanchada. E depois de uns vinte minutos, o roteiro toma outro rumo e dali em diante o cachorro vira mero coadjuvante, por fim mera figuração de luxo. Se esquecem do bicho...

Na verdade, vou ser extremamente “original” e culpar os problemas do filme por conta do roteiro (assinado por 6 pessoas, inclusive Gentili). Gente demais, diálogos demais e muito pouco engraçados. E no caso de dúvida, palavrões. Quase todos desnecessários e grosseiros (masturbar cachorro é influência de Se Beber, não Case... e de gosto discutível).

Mal armado, mal narrado, o filme em vez de criar personagens lógicos, humanos e verossímeis para o casal (ela trabalha numa rádio onde é diretora, mas se comporta como aprendiz) vai delirando para separar a dupla e trazendo participações de humoristas. Danilo Gentili tem o papel que poderia ser ingrato ou fundamental do melhor amigo (primo no caso) do herói, mas é demais para sua inexperiência no cinema e sua persona não consegue aflorar. Fala demais e nunca tem graça. O outro colega de stand up Rafinha Bastos que tem participação bem menor como um veterinário funciona muito melhor. Na verdade, menos é sempre mais em cinema. 

Acho simpática a ideia de muita gente fazendo participações de Sandy a mãe de Leandra, Ângela Leal, mas a boa vontade não consegue ajudar muito. A plateia ri pouco e se dispersa. O diretor Pedro Amorim é irmão de outro diretor Vicente Amorim, filho do santista Ministro Celso Amorim e outro irmão João G. Amorim é especialista bem-sucedido em animação. Fez as séries Quase Anônimos, Mothern. Dá sinais de invenção e talento, mas não chega ainda a ser a tão desejada boa comédia romântica para jovens adultos.