Crítica sobre o filme "Capital, O":

Rubens Ewald Filho
Capital, O Por Rubens Ewald Filho
| Data: 04/10/2013

É bom saber que o ilustre mestre do cinema político, Constantin Costa-Gavras está vivo (aos 80 anos) e continua a trabalhar (seu casal de filhos também segue a mesma carreira Julie Gavras que fez o Cult A Culpa é do Fidel e Late Bloomers e Romain Gavras de Nosso Dia Chegará,10 com Vincent Cassel), mas não vi o filme anterior dele (Eden à L´Ouest, 09) e não convenceu muito no anterior (O Corte, 05) embora ainda tive provocado polêmica com o anterior (Amen, 02). Naturalmente já estamos longe da garra e inovação de seus primeiros e hoje clássicos trabalhos (Z, Estado de Sitio, A Confissão, Missing).

Seu novo trabalho é plácido, com excesso de diálogos, confuso e mesmo um pouco aborrecido. A comparação mais próxima seria com os filmes de Oliver Stone (Wall Street I e II) que foram dos primeiros a dar uma visão dos bastidores do mundo corporativo, no caso particular aqui de um grande banco francês, dividido diante da atual crise no mundo financeiro. E sem atores muito famosos (o papel central é vivido por um humorista que aqui tem que interpretar a sério, o marroquino Gad Elmaleh, que tem feito também aparições em filmes americanos como o Tintin, Meia Noite em Paris de Woody Allen, e no recente A espuma dos Dias). Ou seja, só vai interessar diretamente a quem conhece o sistema bancário e financeiro da França e é capaz de se interessar pelas intrigas de bastidores demonstrando como é dura a vida de um recém empossado presidente diante das armadilhas que os próprios amigos e parceiros colocam em seu caminho. Ou seja, você é obrigado a torcer por um personagem nada simpático, que trai a esposa não dá bola par ao filho pré adolescente, odeia os sogros e parentes, tem um caso com uma oriental de alto luxo, não tem qualquer escrúpulo em trair os parceiros e não dá durante as duas horas qualquer demonstração de humanidade ou mesmo competência. É apenas frio e calculista, sendo alçado ao poder quando o chefe da empresa, o Banco Phenix sofre queda durante o jogo de golfe que revela que tem câncer nos órgãos sexuais. Este o indica com sucessor e dali em diante, o acompanhamos no dia a dia (que o filme não mostra tão estressante quando pareceria ser), não dando tempo para tomar qualquer partido, ou sequer nos indignar com as trapaças, frases cínicas e obviamente o mal-estar que o diretor roteirista pinta as mazelas descontroladas do sistema capitalista.

Adaptado de um romance homônimo de Stéphane Osmont, mas vai se desapontar quem esperar por grandes denúncias, ouvir grandes discursos panfletários demolindo os desmandos. É uma denúncia ao mundo das finanças, mas também um filme frio que interessa a um público limitado.