A esta altura, um mês e tanto depois de sua estreia americana já se sabe que este Elysium foi considerado uma decepção tanto de crítica quanto de público (para um custo de cerca de 115 milhões de dólares, rendeu no mercado americano 88 milhões de dólares e até agora no exterior, 144 milhões. Ou seja, ainda nem se pagou!). Na verdade, é meio unanime que o diretor sul africano Neill Blomkamp (de apenas 34 anos) foi vítima da maldição do segundo filme (quando uma estreia é sucesso, o segundo costuma fracassar e este não chegou aos pés do original, Distrito 9, 09, que chegou a ser finalista do Oscar de melhor filme), mas o que nos interessa particularmente é que ele chamou para o elenco central dois atores brasileiros, a já habitual de filmes de Hollywood, Alice Braga e o estreante no exterior, Wagner Moura, que é certamente nosso maior astro no momento.
Fiquem tranquilos porque os dois se saem bem. Alice faz o interesse romântico da história, como a enfermeira Frey, que era colega de orfanato de Max (Matt Damon), o astro do filme (estranhamente, ele não deixa grande impressão, num papel ingrato mal desenvolvido e clichê). Ela, porém, é toda doçura e sensibilidade, chega a convencer mesmo quando nada faz muito sentido. O caso de Wagner é mais complexo porque lhe chamaram para fazer um personagem de apoio, Spider (Aranha), que surge depois de meia hora, mas dali em diante tem papel fundamental na trama. Ele é uma espécie de líder do underground, do tráfico de armas e semelhantes e que ajudará Max no seu sonho e desejo (na verdade, ele foi vítima de um acidente e sofreu radioatividade, tem apenas 4 dias para buscar socorro e o único que existe é no refúgio dos ricos uma cidade idílica que vive numa estação espacial. Lá há uma máquina e equipamento que é capaz de curar quase instantaneamente qualquer doença (Frey também tem uma filha com leucemia que precisa dessa máquina).
Wagner percebeu que a única maneira de fazer um Spider marcante, era tornando o personagem maior do que a vida (até porque também era jovem demais para o papel), meio shakespereano, com a ajuda de uma muleta, falando alto, grandiloquente, bem-humorado e enfrentando pau a pau tanto Max quanto os bandidos. Assim ele tem uma peça fundamental de hardware para eles poderem pegar uma nave até o chamado Elyseum (o refúgio de ricos, que por sinal é pouco mostrado e não faz nenhum sentido) e irá participar do final até seu clímax e final. Como é ótimo ator, nunca exagera, nunca passa do tom, ao contrário, por exemplo, do ator amigo do diretor, o sul africano Sharito (que já tinha estado em Distrito 9 e foi, massacrado por todos por causa do sotaque incompreensível para o público americano (era afrikaneer local), mas que além disso não deixou lembranças. Falando em sotaque também reclamaram muito de Jodie Foster, que fala meio afrancesado e que tem acho que o pior momento de sua carreira. Ela que costuma convencer em praticamente tudo, parece desligada, desinteressada, noutro filme). Enfim, podemos ficar sossegados a dupla nacional faz bonito!
Como sei do mal hábito do leitor em ler só começo e fim de críticas, dito o mais importante vamos analisar um pouco a ficção cientifica que antes de tudo, e esse é seu maior erro se parece demais com Distrito 9, em tudo. Nos ambientes, mesmo na trama geral e o que é pior, a história original era mais intrigante e melhor contada (as locações foram no México, com imagens de periferia que nos são familiares por aqui). A ação se passa em 2154, quando os ricos vivem fora do Planeta Terra, numa estação espacial (perto de chegar, cerca de 20 minutos de foguete) supostamente idílica onde a grande atração é que tem uma máquina que cura qualquer doença. Esse é um dos problemas maiores do filme, já que não há menor lógica no fato de que só eles tenham usufruto da assistência a saúde (parece um país que eu conheço!) e que não tenham instalado máquinas na Terra que se tornou um grande poço de miséria (mas o filme não mostra mais do que o trivial que já sabemos, talvez para forçar a semelhança com o presente). Como também é absurdo eles ficarem roubando espaçonaves para chegarem lá especialmente para usarem a máquina. O que leva a outro dos muitos absurdos ou facilidades da trama, quando justamente Spider tem disponível um dispositivo chave para a viagem às pressas.
Mesmo o Max de Matt Damon parece ingênuo como um criminoso reformado que tenta guardar dinheiro para chegar ao lugar sonhado, mas um acidente no trabalho o devolve ao mundo do crime, desta vez ajudado por um aparelho esquisito que segura seus ossos. Por outro lado, no comando de Elysium também ocorrem problemas e jogadas criminosas. Talvez tudo isso funcionasse num livro, mas quando ganham vida é difícil engolir (por exemplo, a segurança do Elysium seria tão incompetente quando se vê no ataque final?). Mesmo o conceito do Elsium é bizarro. O que é? Um país separado que serve a um por cento da população? Sem querer ir longe, se for analisado o filme simplesmente não faz sentido algum E pergunta-se: o filme foi louvado porque seria um blockbuster que tem uma mensagem, mas que adianta se a fabula é mal contada?