Crítica sobre o filme "Repare Bem":

Rubens Ewald Filho
Repare Bem Por Rubens Ewald Filho
| Data: 23/08/2013

Este é o nono filme da atriz portuguesa Maria de Medeiros (atualmente em São Paulo em cartaz em peça de teatro) famosa por sua participação no cinema americano (Pulp Fiction, Henry & June), nacional (O Xangô de Baker Street) e principalmente europeu (em inúmeros trabalhos). É um documentário minimalista (propositalmente sem grandes lances de câmera ou truques narrativos, para não desviar do assunto central). No 41 Festival de Gramado, que se encerrou no último sábado, concorrendo na Mostra Latina, foi consagrado como o melhor filme (também levou o prêmio Don Quixote dos cineclubes). Sua exibição pública foi extremamente comovente, com grande parte da plateia chorando, o que se confirmou depois na coletiva. Certamente foi dos grandes sucessos de um Festival onde praticamente todos os concorrentes agradaram. 

O filme conta através de depoimentos a história iniciada durante a ditadura militar no Brasil, quando Denise Crispim, filha de pais militantes, envolveu-se com o guerrilheiro Eduardo Leite, conhecido como Bacuri. A relação dá origem a uma gravidez, no mesmo período em que o regime começa a perseguir a família de Denise. Em pouco tempo, seu irmão é assassinado e sua mãe é presa. Quando à Bacuri, ele é torturado durante mais de três meses, e depois assassinado. Com o nascimento da pequena Eduarda, Denise consegue asilo político no Chile, embora o golpe de Pinochet force mãe e filha a se mudarem para a Itália. Mais de quarenta anos após os fatos, as duas recebem anistia do governo brasileiro, e decidem contar a sua história.

O filme não teria o mesmo impacto se não fossem as figuras carismáticas de mãe e filha, em particular Denise que é uma presença calorosa e sincera. Muito delicado, muito tocante, é um documentário extraordinário.