Crítica sobre o filme "Bling Ring - A Gangue de Hollywood":

Rubens Ewald Filho
Bling Ring - A Gangue de Hollywood Por Rubens Ewald Filho
| Data: 15/08/2013

Depois de ter ganhado o Leão de Ouro em Veneza por seu filme anterior, o fraco Um Lugar Qualquer (10), Sofia Coppola insiste em contar outra história de Hollywood (que nem é sua terra natal, ela é de Nova York) menos alegórica, mas como se dizia antigamente “extraída das manchetes dos jornais”. Melhor dizendo, outra ilustração da futilidade e do culto da celebridade, daqueles famosos por serem famosos, contando uma história real e espantosa de um grupo de adolescentes de famílias ricas de Los Angeles, que resolvem invadir as casas dos famosos (e no filme aparece tanto Paris Hilton quanto sua própria casa, já que ela é o caso mais notório de alguém que não tem qualquer talento, mas mesmo assim é uma estrela. Da mesmo a impressão que permitiu que rodassem em sua casa, só para mostrar seus imensos armários de roupas). E além de tudo roubar seus pertences, tenham ou não especial valor. Sofia não se incomodou que já houvesse um telefilme sobre o tema de 2011 e homônimo, aliás, bem feitinho, com Jennifer Grey como a mãe do protagonista. Todo o elenco jovem é correto e praticamente não há mudanças (o filme está disponível na Internet). O diretor Michael Lembeck e o roteiro de quem conta a história (aparentemente para seus conhecidos na Internet) é o rapaz, Marc (inspirado em Nick Frank Prugo, que com sua gangue roubou cerca de 3 milhões de dólares das casas dos famosos). Ele começa ingênuo e vai aprendendo com a ajuda de uma patricinha oriental (e “As Patricinhas de Hollywood” ainda foi o melhor filme que abordou esse tipo de geração e comportamento, sem crime. Embora meu amigo Mario Mendes tenha me lembrado de Abaixo de Zero, 87, que mostrava o mesmo tipo de turma que se alegrava em se drogar. O tv movie não mostra drogas em compensação a versão do cinema deita e rola. O que justifica mais facilmente o comportamento bizarro e irresponsável da turminha). Aos poucos, completamente amorais vão comprando gente, passando a frequentar night clubs e festas, vendendo descaradamente o material roubado. E naturalmente como todo filme ensina, ficando descuidados, passando informação pelo Facebook, aceitando mais parceiros. A única quebra de narrativa é sem mais ou menos colocar os policiais fazendo depoimentos para a câmera sobre o caso. Que fica um pouco confuso e nada original. E assim prossegue o telefilme que se não chega a julgar, deixa o herói falar e se explicar, que não fez nada por dinheiro, mas simplesmente porque queria frequentar as boates da moda, ser cool, termos amigos, se achar bonito. E pergunta: você não faria o mesmo? E nestes tempos sem nenhuma ética ou vergonha na cara, infelizmente isso soa como uma convocação para ser cool que seja como ladrão e fora da lei. Só vale é ser cool! 

Quem não conhece Los Angeles não se espante porque realmente é do jeito que mostra o filme. Mansões sem nenhuma segurança, sem muro, quase sempre com portas sem serem fechadas a chave (mas há um alarme e uma vigilância diuturna que o filme ignora), mas eles vivem num mundo de fantasia e acham que nada de mal pode lhes acontecer (e inclusive vários dos roubados nem sequer deram queixa à polícia). O filme tem isso de ruim, o mau exemplo. A farra não vai terminar por aí. Outros virão, que você achar divertido colocar seus erros, falhas e mesmo crime no Facebook sem pensar em consequências.

Quanto ao filme de Sofia, não precisava ser feito já que tem outro tão igual. Bling Bling me explicou o Mario é a gíria usada pela turma da moda para roupas e acessórios brilhantes (e pobre de mim desinformado, a reportagem que deu origem ao filme- e uma atriz interpreta a repórter- se chamou Os Suspeitos Usavam Louboutin se refere a marca de sapatos mais badalada do momento). Ao contrário do telefilme que é mais convencional, Sofia começa já numa visita a casa de celebridade (onde o comportamento é semelhante, devassam os armários e fogem com as roupas mais na moda, mais de grife! Muitas vezes para se desfazerem delas por bagatelas) e além disso tem uma detestável predileção por cenas escuras aonde mal dá para se enxergar alguma coisa! Não é muito de continuidade dramática, mas estranhamente acerta mais em planos isolados, onde explora detalhes (como o rapaz que denota um lado gay se pintado na boca e depois dançando, até tempo demais ou a discussão por causa do revólver encontrado debaixo da cama de Megan Fox). Usa muito pouco a trilha musical, colocando alguns discos de fundo e raramente música para criar clima, mas confia na presença dos atores jovens e se limita a satirizar apenas uma figura materna, no caso com a comediante Leslie Mann (Mulher de Apatow) como a mãe (que não percebe nada e que confia nos ensinamentos do livro O Segredo, com que dá aulas em casa para suas três filhas. Uma delas é Emma Watson, que tem os depoimentos (para a imprensa), mas divertidos e que exigem mais como atriz, inclusive na cena final. Justamente por exigir tão pouco do elenco é que poucos deixam maior impressão.

Também porque é mais recente está versão pode mostrar o destino dos envolvidos (Sofia usa um recurso que me parece de pós produção, fecha a porta da corte de justiça e só reabre em câmera lenta, dando tempo para passar as sentenças dos principais), mas recusa a se indignar ou tomar posição ou nem mesmo críticar ou satirizar seus pequenos criminosos. 

Foi o último filme do diretor de fotografia Harry Savides a quem o filme é dedicado (que morreu em outubro de 2012) que já ficou doente durante a filmagem e foi substituído por Christopher Blauvelt (os dois compartilham o crédito). No elenco, dentre as curiosidades, Taissa Farmiga é filha e a cara da indicada ao Emmy Vera Farmiga (Bates Motel). O pai Francis assina a produção que foi feita também pela firma da família, o American Zoetrope. O primo Marc Coppola faz o pai de Marc. Exibido no Um Certain Regard do Festival de Cannes, rendeu nos EUA apenas 5 milhões e 600 mil, e por enquanto um milhão e 400 no exterior.