Crítica sobre o filme "Querida, Vou Comprar Cigarros e Já Volto":

Rubens Ewald Filho
Querida, Vou Comprar Cigarros e Já Volto Por Rubens Ewald Filho
| Data: 18/04/2013

Começa muito bem de forma até brilhante, com locações no Marrocos, quando apresenta um sujeito misterioso, um vendedor (feito pelo único nome famoso aqui do elenco, o espanhol Eusebio Poncela, que fez Matador e A lei do Desejo, ambos de Almodóvar), que nega a tradição ao ser atingido e morto por um raio. Só que logo depois é atingido novamente no mesmo lugar e desta vez ressuscita com poderes especiais. Daí em diante, há um ponto de partida ótimo, que ainda por cima é explicado ao vivo na tela por um narrador, que vem a ser o escritor Alberto Laiseca. 

Tudo é espirituoso e promete muito. Infelizmente escolhem para protagonista, um velho frustrado e mal sucedido, que se encontra com Eusebio (creditado como el hombre raro) num restaurante de periferia e que lhe oferece uma segunda chance na vida. Pode até recomeçar tudo desde criança ou jovem e ainda levaria dinheiro de recompensa (não é como o diabo que compra almas, a razão do seu gesto nunca fica claro, um ponto fraco do roteiro).

A dupla de cineastas argentinos Mariano Cohn e Gustavo Duprat fez antes O Homem do Lado, 09, que era sobre um sujeito que tinha sua vida transformada em inferno por um vizinho misterioso. E ainda 5 outros filmes (dois documentários) que não conheço, mas é um caso clássico de uma boa ideia (não exatamente nova, houve vários filmes com trama semelhante, inclusive de teve como Jovem De Novo) mal aproveitada. No caso, o homem “raro” oferece uma chance de reconstruir uma vida, com uma premissa bem legal: reviver sua vida que foi infeliz só que agora com os conhecimentos que tem como velho, sua experiência, mas a lógica é que quando a pessoa é burra e ignorante, vai cometer os mesmos erros ou piores (no caso, ele aproveita canções famosas como Imagine e se passa como autor, ou o enredo de Tubarão). É preciso ter inspiração para contar a história de um homem medíocre, sem ser exatamente uma comédia (o título nada tem a ver com a comédia de traições amorosas que sugere). E não adiante ter uma conclusão em Paris. O apólogo é redundante e mal contado.