Crítica sobre o filme "Amor Pleno":

Rubens Ewald Filho
Amor Pleno Por Rubens Ewald Filho
| Data: 26/07/2013

Antigamente o diretor Malick tinha o hábito de levar longos intervalos, até de muitos anos, entre um filme e outro. Desta vez, após a Palma de Ouro em Cannes por A Árvore da Vida (11), apresentou em Veneza em 2012 este outro trabalho misterioso na mesma linha, mas com menos impacto. Resultado: fracasso de bilheteria (crítico é teimoso, não dá o braço a torcer assim tão fácil) e um longo bocejo de tédio. Cometeu o erro que pode ser fatal, de deixar o espectador pensar que como na fabula, o rei está nu! 

Na semana em que estreia o filme aqui também chega a notícia de que o recluso diretor está sendo processado por investidores que querem de volta o dinheiro (com compensações) os $3.3 milhões de dólares que investiram num projeto que se chamaria Voyage of Time, que ele dizia ser um de seus maiores sonhos. Seriam dois filmes de 45 minutos (e mais um longa do tamanho normal) que seria para as salas em Imax, onde ele retrataria os acontecimentos que nossa história cósmica, assim como o estado da Terra e os prospectos para seu futuro. Segundo os lesados, Malick tem dedicado suas energias a outros e se distraído com eles. Quatro filmes em cinco anos. (Antes ele levava dez anos para realizar um trabalho, agora o IMDB registra mais dois filmes novos inclusive Knights of Cups com Christian Bale e Natalie Portman, que estaria em pós produção).

Se você achou A Arvore entediante e difícil de seguir, espere para conhecer este filme amador e caseiro, que segue a mesma linha, sem ao menos tentar fazer maior sentido (o protagonista Affleck, o diretor do filme vencedor do Oscar deste ano, Argo, assumindo papel que foi largado por Christian Bale, praticamente não abre a boca!). E como de hábito um monte de gente famosa participou das filmagens só para terem depois seus papeis de coadjuvantes eliminados na edição final: Rachel Weisz, Jessica Chastain- que fazia um ex-namorada de Ben), Michael Sheen, Amanda Peet, Barry Pepper. No entanto a maior parte da equipe habitual de Malick está novamente reunida, incluindo do diretor de arte Jack Fisk (marido de Sissy Spacek), fotografo Emmanuel Lubezki, produtora Sarah Green, figurinista Jacqueline West e diretor de arte David Crank. Foi o fotografo que afirmou que é o filme mais abstrato de Malick e mais puramente cinemático. Com isso já para bom entendedor se percebe que é um travelogue que seria inspirado numa história semiautobiográfica (como em Arvore). Malick como “Neil” teria tido um romance com uma francesa nos anos 80 (Michéle Morette, como a Marina de Olga), casou-se com ela em 1985 e depois se mudou para o Texas com ela. Mais tarde ele reencontrou Alexandra Wallace (Ecky), uma ex-namorada do curso secundário (como a Jane de MacAdams) na escola de St. Stephen em Austin, Texas. O título original seria uma referência ao famoso monastério do Monte Saint Michel, que fica no Normandia, França, que aparece no filme e que é chamado “a maravilha do Oeste”. Outro detalhe apavorante: o filme foi rodado sem script, Malick deu aos atores páginas de pensamentos e frases, a cada manhã, pedindo depois para eles interpretarem esses sentimentos sem falarem, apenas com expressão corporal (e segunda Olga, os personagens eram mais dark, muito mais instável com cenas de depressão e brigas com Ben. Curioso: não se sabe o nome de nenhum personagem (só nos letreiros finais, a não ser o de Tatiana).

Tudo isso nos leva a classificar o filme de no melhor dos casos experimental, no pior condescendente e egocêntrico, interessante para um cineasta amador ou apenas uma “trip” muito pessoal. Se Fellini podia por que não ele? Apenas porque o resultado era muito mais criativo, inteligente e brilhante do que de Malick.