Crítica sobre o filme "Renoir":

Rubens Ewald Filho
Renoir Por Rubens Ewald Filho
| Data: 12/07/2013

Não cobro da biografia de um pintor famoso outra coisa que não seja 1) Autentico na reprodução de suas obras e principalmente no seu estilo, no tipo de luz que utilizava 2) Respeitando a história verdadeira dos personagens, sem romancear em excesso. 3)se possível rodando em locações autenticas e situando a obra e consequências. Tudo isso consegue fazer este filme do pouco conhecido roteirista e diretor Gilles Bourdos (que fez Antes de Partir com Malkovich e Roman Duris, 08, e dois outros inéditos aqui Inquirtudes, 03 e Disparus, 98. As locações foram na Cote D´Azur, Domaine Du Rayol, Canadel sur Mer.

Sempre gostei imensamente da obra de Pierre-Auguste Renoir (1841-1919, em Cagnes sur Mer) que apesar da fama nunca teve antes um filme a seu respeito. Também em parte por causa de sua relação tão próxima com o cinema já que seu filho Jean Renoir (1894-1979) se tornaria um dos grandes cineastas da história do cinema com filmes como A Grande Ilusão e A Regra do Jogo (aqui ele é vivido pelo jovem Vincent Rothiers de Feliz que Minha Mãe Esteja Viva, A Espuma dos Dias). Justamente a moça que é o fio condutor do filme e que se apresenta em 1915 em sua propriedade pensando em posar como modelo no começo, se chamando Andrée Heuschling, mais tarde seria a primeira mulher de Jean e sua musa no cinema (tendo sido ela a primeira a fazê-lo interessar pela arte). Ela usaria o nome de Catherine Hessling (1900-79) e seria sua estrela desde o primeiro filme em 1924, Une Vie Sans Joie, até Tire au Flanc (28). Sem ele Catherine ainda fará filmes com diretor importantes como o brasileiro Alberto Cavalcanti e G.W. Pabst até se afastar em 1935. No filme ela é vivida por Christa Theret (que lembra a jovem Helena Bonham Carter) de Rindo à Toa (Lola). 

Acho que a preocupação do roteiro e do filme não é tanto contar uma história, mas recriar o ambiente em que vivia o grande artista, cercado pela natureza, pela família e empregados, lutando bravamente contra a dor da artrite que o dilacerava e tentava impedi-lo de pintar. E que coincide com a feitura de uma obra-prima da pintura, o retorno do filho Jean da Primeira Guerra ferido e o fim da primeira infância do outro filme menor, Coco (Thomas Doret, de O Garoto da Bicicleta). Há mais um filho, Pierre Renoir (Laurent Poitrenaux, de Alem do Arco Iris e Os Sabores do Palácio). Pierre (1885-62) depois se tornaria também ator (65filmes, inclusive os do irmão), pai do excelente fotografo Claude Renoir (1913-93) que iluminou filmes como Barbarella, O Espião que Me Amava, A Grande Escapada, e naturalmente estreou com o tio em Toni e Une Partie de Campagne. (35-36). Seu neto Jacques Renoir também se tornou importante diretor de fotografia e foi quem escreveu o livro que deu origem ao filme.

Ou seja, uma família de artistas retratados muita beleza e a delicadeza impressionista da “campagne” francesa, esplendidamente fotografado por um chinês de Taiwan Mark Lee Ping Bing e ajudado pela música do melhor compositor de trilhas do momento, o francês Alexandre Desplat. No fundo, um filme antiquado e doméstico, com nudez casual com momentos encantadores (Michel Bouquet que interpreta o veterano pintor se comporta com total discrição e meu momento favorito no filme é quando se levanta para despedir do filho), mas que me agradou muito.