É interessante dar atenção a este lançamento porque é dos primeiros feitos no Brasil de um filme clássico sem que exista anteriormente nos EUA. Saiu também El Cid (que eu comprei, mas ainda não assisti, a vantagem é que os preços são razoáveis), mas este traz a vantagem de ter sido feito pelo famoso technicolor da Fox, que era considerado o melhor e mais bonito de Hollywood em sua época. E as cores resplandecem como nunca neste capa-espada que ganhou o Oscar de melhor fotografia a cores (na época, o sistema era a cores e os estúdios o utilizam para filmes de aventura, no caso para ressaltar os cabelos ruivos de sua estrela Maureen O´Hara (ainda viva) e o maior galã do estúdio Tyrone Power (reparem como os tempos mudaram e hoje ele parece fracote já que não era nada bombado. No entanto era considerado em seu tempo o modelo de homem bonito). Inclusive Maureen participa do comentário em off, fazendo observações oportunas e bem-humoradas. Foi ainda indicado aos Oscars de melhores efeitos especiais e trilha musical (Alfred Newman).
Já basta isso para se sentir que era uma produção Classe A de um gênero então muito popular e que ficou anos fora de cartaz para voltar recente com a série Piratas do Caribe com Johnny Depp. Embora bem-humorado a aventura não chega a ser tão farsesca. Quase todo rodado em estúdio (embora tenha tido locações em Cuba, Florida, Griffith Park em Los Angels, Honduras, Mexico e Port Royal, Jamaica.
A nave que foi utilizada no filme foi reutilizada depois em outros como Lady Hamilton, Capitão Kidd e A Princesa e o Pirata. Apesar disso procuraram economizar nas filmagens procurando reduzir o número de tomadas (e 30 por cento delas foram feitas em um único take). Embora digam ser inspirada num livro de Sabatini, na verdade o roteiro nada tem a ver com o original a não ser o uso do nome do Henry Morgan. O final original teve que ser modificado porque a censura não permitiu que Tyrone e Maureen pulassem juntas na água! Os roteiros são dois grandes veteranos famosos, Ben Hecht (1894-1964), 6 vezes indicado ao Oscar (ganhou duas) e também diretor e escreveu filmes como Scarface, Quando Fala o Coração e Notorious de Hitchcock. Seton I Miller (1902-74), ganhou o Oscar por Que Espere o Céu e escreveu capa-espadas para Errol Flynn como Robin Hood e Gavião do Mar.
Naturalmente é uma aventura que mistura ação com humor, justamente o que o público precisava naquele momento em que era atacado Pearl Harbor e o público precisava de algo escapista e divertido. E no caso também bonito.
O segredo do filme está no seu elenco que é liderado por uma dupla que é boa de ação e romance. Tyrone era um bom ator que teve a infelicidade de morrer cedo demais, numa filmagem (Salomão e a Rainha de Sabá, lutando com George Sanders, que é o vilão aqui), com apenas 44 anos (de enfarto, em Madrid). Maureen é mais lembrada como a estrela favorita de John Ford (também irlandesa de origem), mas como coadjuvante e vilão tem o futuro astro Anthony Quinn, Thomas Mitchell, Sanders (todos eles premiados com o Oscar de coadjuvante) e outra grande figura que foi Laird Cregar (1913-44, que faz o Morgan), grandão e corpulento, ele era dos melhores vilões da Fox, que morreu prematuramente com apenas 31 anos (demonstrava mais), como resultado de uma dieta desastrosa que o levou a operar o estomago e um consequente enfarto. Fruto mais da vaidade de não querer ser vilão do que necessidade.
A edição é decente ainda que na minha cópia em alguns momentos haja irregularidades e queda de qualidade em algumas cenas. Ainda assim eles todos contribuem para tornar este O Cisne Negro um dos melhores filmes de pirata de todos os tempos.