Este é o filme chave na carreira de Trier, a grande virada que o transformou num sucesso mundial (e que veio ainda antes da fase do Dogma) e um diretor cada vez mais polêmico (veja como Cannes o proibiu de participar do Festival depois de ter feito brincadeiras inconvenientes sobre Hitler e sua possível admiração por ele). Difícil imaginar o impacto que ele teve no Festival de Cannes (onde levou o Grande Prêmio do Júri) inovando com a câmera solta na mão feita pelo alemão Robby Muller (holandês que trabalha com Wim Wenders e Jarmusch). É que foi por demais imitado desde então e será difícil perceber isso já que suas inovações foram todas absorvidas pelo cinema comercial atual (vide a série Bourne). Também revelou uma atriz desconhecida, inglesa, estreante e que faz até hoje uma boa carreira, mas por este filme foi indicada ao Oscar, indicada ao Bafta e Globo de Ouro, ganhou o European Film Award, os críticos de Nova York, o Independent Spirit etc. O filme também teve seus prêmios (como o César francês, críticos de Nova York e assim por diante). Segundo Trier é o primeiro filme da trilogia do Coração de Ouro, giram em torno de heroínas que mantém seu coração puro e ingênuo apesar de suas ações (os outros são Idiotas e Dançando). O filme usou uma técnica digamos primitiva para conseguir seu tom granulado e amadorístico, passando o material editado para vídeo diretamente para a película de 35mm. Helena Bonham Carter e Barbara Sukowa foram consultadas antes para viver Bess. Não é um filme simples, mexendo com moralidade e Deus, com o diretor no auge de seu polemismo.