Sou admirador do roteirista e diretor Jacques Audiard (que vem de ilustre família, seu pai Michel Audiard foi o mais famoso dialoguista do cinema Frances e também diretor), mas se o pai preferia comédias sofisticadas e brilhantes, Jacques estreou com uma visão bem humorada de um vigarista (Um Herói Muito Discreto, 96, premiado em Cannes), mas com o tempo optou por dramas policiais (o meu favorito De Tanto Bater meu Coração Parou, 05, mas fez ainda mais sucesso com O Profeta, 09). Aqui ele tem a sorte de contar com a melhor atriz jovem do cinema Frances atual que é sem dúvida, a premiada com o Oscar Marion Cotillard. Que aliás, vem fazendo uma bela carreira nos dois lados do Atlântico, na França com o marido em até a Eternidade e principalmente nos EUA, com Meia Noite em Paris, A Origem, Batman Ressurge, Nine. Na verdade ela bem que merecia ter sido indicada ao Oscar novamente este ano (mesmo assim foi lembrada com indicações ao BAFTA, Instituto Australiano, Globo de Ouro, SAG, Cesar, prêmios especiais no Gotham Award e No Hollywood Festival, Críticos de Londres, Prêmio Lumiére e mais outros).
Este não é um filme bonitinho, engraçadinho e digestivo. Audiard faz questão de ser realista, mostrar gente comum sofrendo problemas do dia a dia, um desafio tanto para a atriz, quanto para o protagonista, masculino. Ele procurou um ator novo em ginásios de boxe, mas acabou optando por um ator holandês que o impressionou muito Matthias que conhecíamos de um filme indicado ao Oscar onde realmente tinha uma figura impressionante (o indicado ao Oscar de filme estrangeiro Bullhead, 11). Aliás, ele ganhou o prêmio Cesar por este trabalho como a revelação, masculina do ano. E realmente é difícil se achar um tipo como ele, grandão, forte, abrutalhado, mas também sensível. É um duelo duro entre o casal que naturalmente tem os apelidos que aparecem no título. E ademais dois grandes atores.
O roteiro é baseado em dois contos (o Ferrugem e Osso e mais um Rocket Ride, de um livro de contos do canadense Craig Davidson). No livro é o homem que perde as pernas depois de um ataque da Orca Baleia assassina, mas na adaptação Audiard preferiu que fosse uma mulher (em parte porque no filme anterior O profeta havia excesso de personagens, masculinos). O herói leva o nome de Alain e deixa a Bélgica com o filho pequeno indo procurar trabalhar a beira, na Cote D´Azur, na cidade de Antibes junto com a irmão mais velha e o cunhado. Acaba conhecendo e se envolvendo com Stephanie que trabalha num parque aquático, tipo Marineland, onde justamente trabalha com a baleia, mas por um infeliz acidente ela é atingida pelo bicho e fica sem as duas pernas. Sua recuperação é difícil e atormentada. Embora tivesse um seguro médico, é difícil aceitar a nova realidade e ainda mais aceitar o amor (meio bruto) do parceiro.
Marion que fez o filme simultaneamente como o último Batman tem um papel difícil, com momentos pesados (como quando se arrasta sem pernas), mas é ela quem define melhor o que é a obra: um filme sobre o amor, a carne, ferrugem e osso, coração e sexo.