Vencedor de dois grandes prêmios em San Sebastian (roteiro e o grande prêmio), indicado para 6 Césars (inclusive filme, ator e diretor), prêmio da crítica em Toronto, este novo filme do diretor François Ozon (8 mulheres, Angel, Ricky, e o primeiro desde Potiche com Catherine Deneuve) é provavelmente seu melhor trabalho (prolífico ele já tem novo filme em finalização Jeune et Jolie com Charlotte Rampling). Uma inteligente e deliciosa comédia inspirada em peça teatral espanhola (El Chico de la última fila) que vai agradar mais ainda a quem gosta de literatura que irá se divertir com suas citações de grandes autores, para não dizer da interpretação expert da dupla central, o grande Fabrice Luchini (ninguém faz um chato tão bem como ele não cinema atual) e a sempre adorável Kristin Scott Thomas, que acrescenta charme e beleza a um personagem ingrato da esposa que está prestes a perder seu emprego como diretora de uma galeria de arte de objetos sexuais!
Construído todo em contraponto, ação e palavras, o filme começa com o chato do professor Germain (Luchini), desiludido com a escola e com o desinteresse de seus alunos em relação a literatura francesa que se anima quando descobre um aluno de 16 anos sentado na última fileira, Claude Garcia (o loirinho e franzino, com cara mau, o jovem alemão Ernest, que esteve naquele bizarro O Monge e que não aparenta seus 22 anos). O rapaz está escrevendo uma espécie de romance autobiográfico relatando seu relacionamento com um colega de classe, que está precisando de sua ajuda na matemática, e de quem começa a frequentar sua casa. O adolescente escreve bem e Germain vai dando palpites, as vezes levianos, as vezes atrevidos e vai se envolvendo com a história, principalmente quando Claude se apaixona pela mãe do amigo (feita por Emmanuelle, musa e esposa de Polanski,que não melhora como atriz). A intriga vai se complicando quando se mistura a fronteira entre ficção e realidade, coisa que Ozon já havia feito antes em Swimming Pool.
Também comédia de costumes (por exemplo, na escola todos os alunos voltam a vestir uniforme, coisa que não sucede na França, mas que é pleiteado pela Direita), o filme se enrique quando se sabe que os pais de Ozon eram também professores e que ele era mau aluno, até o momento em que se interessou por cinema e passou a ser influenciado por outros professores. Por isso mexeu bastante na estrutura da peça (o Claude era bom em filosofia o que dava margem a excesso de filosofadas e não matemática), organizou a história em termos de espaço/locação. O resultado é um dos filmes mais divertidos e interessantes da temporada.