Crítica sobre o filme "Aeroporto":

Rubens Ewald Filho
Aeroporto Por Rubens Ewald Filho
| Data: 19/01/2013

Infelizmente alguns filmes envelhecem pior do que outros. É o caso deste enorme sucesso de bilheteria e que foi uma das mais bem-sucedidas produções de Ross Hunter (1920- 96).

Foi ator de filmes classe B da Columbia, entre 1944-49. A partir de 1952, começou a produzir para a Universal. Sua fórmula incluiu estrelas (Lana Turner, Sandra Dee, Rock Hudson, Jane Wyman), guarda-roupa luxuoso, refilmagem de velhos sucessos (Sublime Obsessão/ Magnificent Obsession, 1954; Imitação da Vida/ Imitation of Life, 1959, ambos de Douglas Sirk) e diversão sem compromissos.

Ele acreditava em glamour, cenários luxuosos, figurinos e joias deslumbrantes.Teve sucessos absolutos (Confidências à Meia-Noite/ Pillow Talk, 1959; Aeroporto/ Airport, 1969), embora tenha falhado na sua tentativa de mudar de estúdio, quando foi para a Columbia com o calamitoso Horizonte Perdido, 1973, de Charles Jarrott.

Nos últimos anos produziu, com menos êxito, telefilmes. Teve longa parceria com o diretor Douglas Sirk, inclusive no filme de maior bilheteria da Universal na época, Imitação da Vida. Viveu 50 anos de vida marital com Jacque Mapes (1914-2002).

Originalmente o autor Arthur Hailey (1920-2004), escreveu a história como um telefilme da teve canadense depois expandiu para um romance que se tornou bestseller e o fez escrever outros (Hotel de Luxo, Automóvel, Dinheiro).

Este foi primeiro filme da série que teria continuações em 1975-77-79. A trama foi roteirizada pelo também diretor George Seaton, um veterano de filmes famosos como De Ilusão também se vive, O Falso Traidor, 36 horas, Amar é Sofrer, que deu Oscar para Grace Kelly.

Mas o ritmo dos filmes da época é muito diferente do de hoje. Tudo é demorado, construído aos poucos, ainda mais num filme como este com elenco all-star (Dean e Burt ganharam percentagem da bilheteria que os deixou ricos, embora este último considerasse o filme “um lixo”).

Porque na verdade está se mostrando como funcionaria um aeroporto (lógico que eram outros tempos mais tranquilos, ainda assim se mostra tipos curiosos como a velhinha que conseguia entrar nos voos sem pagar (para visitar a família e não grana), um papel que ficou importante porque foi vivido pela Primeira Dama do Teatro (Broadway) a encantadora Helen Hayes (1900-93), vencedora do Oscar em 32 por O Pecado, de Madelon Claudet, e de coadjuvante por este filme (dali em diante, ela continuaria repetindo variações do personagem da velhinha). Ou então, a mulher antipática (a ótima Jessie Royce Landis em seu último filme) que tenta enganar um velho funcionário da alfândega (Lloyd Nolan). Ou seja, pretende ser um thriller de suspense misturando histórias românticas, desastres naturais, e o medo de desastres aéreos.

Mas no fundo só comprova como é seguro viajar de avião. Mesmo quando tem um psicopata a bordo que pretende explodir uma bomba, tudo um pouco ingênuo demais para o público atual. Foi o último filme do veterano Van Heflin (1910-71), que faz o psicopata casado com Maureen Stapleton.

Ele é também ganhador de Oscar (coadjuvante em 1943, por Estrada Proibida) Depois foi muito imitado, e na época muito levado a sério, concorrendo aos Oscars de Filme, Direção, Direção de arte, Fotografia, Figurino, Montagem, som, roteiro e Trilha Musical (prêmio póstumo para o veterano Alfred Newman) e Coadjuvante (Stapleton).

A montagem foi selecionada por que de vez em quando se usa o recurso de telas múltiplas ainda que de forma tímida. Foi indicado ao Globo de Ouro de filme (drama), coadjuvantes (George Kennedy), trilha musical e ganhou de atriz coadjuvante (Maureen Stapleton).

O diretor Henry Hathaway substituiu George Seaton em algumas cenas (as do aeroporto coberto de neve no começo que foram rodadas no aeroporto de Minneapolis) quando este ficou doente.

De qualquer forma, Lancaster é o responsável pelo bom funcionamento do aeroporto (e problemas com as pessoas que querem processar por causa do barulho). Jean Seberg (1938-79), é sua auxiliar (eles se gostam, mas Burt é casado com a antipática socialite Dana Wynter). Jean é jovem que foi descoberta por Otto Preminger para viver Joana D´Arc, mas depois foi transformada em estrela por Godard, no filme Acossado.

Fez vários filmes americanos sem o mesmo êxito (em parte porque as mulheres são vítimas da moda da época, com todos cabelos armados de laquê) até sua morte mal explicada (aparentemente se suicidou, o corpo foi encontrado num carro abandonado em Paris).

O único ator que participou de todos os filmes da série foi George Kennedy (outro vencedor do Oscar de coadjuvante e ainda vivo) que faz o chefe da mecânica no aeroporto. Dean Martin talvez seja o menos convincente como o piloto do avião, casado (com Barbara Hale, veterana da série Perry Mason e ainda viva), mas que mantém um romance com a aeromoça Jacqueline Bisset (então, a mulher mais bonita do cinema).

Aeroporto (a série)

Há uma pesquisa que diz que uma entre cada quatro pessoas tem medo de avião. Isso dá uma ideia das possibilidades de sucesso de um filme sobre o assunto. Mas o primeiro a realmente a explorar bem o tema foi o autor Arthur Hailey: não apenas contou a história de um louco que ameaça explodir um avião com uma bomba, mas principalmente lidou com as várias figuras que se cruzam no funcionamento de um grande aeroporto internacional.

O resultado foi um grande sucesso com Aeroporto e depois vieram as continuações com resultados progressivamente mais fracos. Mas curiosamente se prestarem atenção, o que sucede é que os filmes mostram que os aviões são praticamente indestrutíveis e o meio mais seguro de viajar.

O primeiro foi Aeroporto 1975 (todos eles eram feitos no ano anterior ao que dizia o título, ou seja 74), de Jack Smight, em um avião 747 que se choca em pleno ar com um pequeno avião e perdem o piloto. É então a aeromoça Karen Black que passa a dirigir o avião com instruções da Torre de Controle. Enquanto tentam transferir para o avião um piloto, no caso o astro Charlton Heston.

Claro que fica ridículo porque Karen é mais vesga de todas as atrizes daquele momento. O elenco era muito famoso: Charlton Heston, Martha Scott, Efrem Zimbalist Jr, a cantora Helen Reddy, Myrna Loy, Nancy Olson, Linda Blair (O Exorcista), o comediante Sid Caesar, Dana Andrews. E ainda Gloria Swanson, seu último filme e o primeiro em 22 anos. Foi ela mesmo que escreveu o seu texto.em papel que foi antes oferecido a Greta Garbo. Foi muito satirizado em Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu e está no Hall da vergonha dos prêmios Razzie.

Aeroporto 77 (76), de Jerry Jameson. A categoria de diretores vai piorando, mas o elenco ainda é all star: Jack Lemmon, Lee Grant, Brenda Vaccaro, Joseph Cotten, Olivia de Havilland, James Stewart, Christopher Lee, Darren McGavin, Roberto Foxworth e Katheleen Quinlan.

Desta vez a ideia é de que os aviões são tão seguros que sobrevivem mesmo quando caem no oceano e ficam debaixo d´água.

Quem provoca tudo é um grupo de ladrões de arte, que sequestram o 747, mas se atrapalham com um nevoeiro e mergulham no mar! Lemmon é quem faz o piloto!

Aeroporto 79 (The Concorde, feito em 78), de David Lowell Rich. A série só terminou por causa das imitações e apesar de tudo das reclamações das companhias aéreas que diziam que os filmes assustavam os clientes.

Aqui recorreram ao supersônico francês The Concorde (que hoje já não existe mais!) trazendo o francês Alain Delon como o piloto e a holandesa Sylvia Kristel como a aeromoça. Uma firma fictícia americana (Federation World Airlines) comprou um Concorde e faz o voo inaugural de Washington D.C. até Moscou em gesto de boa vontade com as olimpíadas (de 80).

O vilão Kevin (Robert Wagner) é um traficante de armas nuclear que deseja destruir o avião e matar Susan Blakely. Mas o clímax é quando eles caem nos Alpes.

O elenco traz ainda os veteranos Mercedes McCambridge e Eddie Albert, a cantora latina Charo, a sueca Bibi Andersson, David Warner, Cicely Tyson.