Crítica sobre o filme "Bruxas, As":

Rubens Ewald Filho
Bruxas, As Por Rubens Ewald Filho
| Data: 30/12/2012

O produtor Dino de Laurentiis (1919-2010) foi o descobridor e marido da estrela Silvana Mangano (1939-1980) cuja Carreira ele sempre patrocinou e para quem produziu este filme em episódios, todos celebrando sua beleza e talento.

Silvana, uma das musas do cinema italiano desde Arroz Amargo era na vida real, uma pessoa depressiva (o que foi se tornando pior desde quando o filho do casal morreu em desastre de aviação).

Mas aqui no auge da popularidade das comédias italianas ele reuniu cinco grandes diretores (todos amigos ou fãs dela), vários roteiristas (os melhores disponíveis), dois grandes compositores (Piero Piccioni e Ennio Morricone) e um amigo (Sordi) com um resultado irregular.

Dois dos episódios são meras anedotas passageiras. Em Senso Civico, Silvana faz uma mulher que dá uma carona para homem que sofreu acidente de carro mas ela tem segundas intenções. Já em A Siciliana, é praticamente um solo onde retrata a mentalidade ignorante da mulher siciliana. Pasolini fez o episódio do meio, o mais bizarro, teatral e fabulista, com a moral de que tanto faz estar vivo ou morto (com maquiagem teatral, Totó e Ninetto fazem pai e filho que procuram a esposa ideal).

Diferente do tom dos outros, pode encantar ou assustar. Talvez o melhor episódio seja o primeiro de Visconti, o mais dramático passado numa estação de esqui na neve, na Áustria, ande chega uma estrela super famosa (o filme é um retrato de sua época, começando com os letreiros iniciais em animação e caricaturas).

Ela chega em crise e o motivo só se revela ao final (o roteiro é do mestre do neo-realismo Zavattini e o dramaturgo Patroni Griffi). Annie Girardot faz a amiga dona do lugar e são famosos os homens de meia idade que dão em cima dela (o espanhol Rabal e o italiano Girotti que por sinal foi o astro de um dos primeiros filmes de Visconti, Obsessão, 43, junto com Clara Calamai, que aqui faz uma das convidadas, a ex-atriz).

Muito curiosa é a aparição em ponta marcante (o filme abre com ele) da nova paixão do diretor, como um empregado do hotel, que depois o transformaria em astro Helmut Berger (usando seu nome verdadeiro). É visível como Visconti criou um papel especial para ele e o favorece em algumas cenas.

No último episódio, De Sica satiriza os filmes de seu amigo Fellini, inclusive parodiando La Dolce Vitta e Boccacio 70. Este também foi o único filme italiano que o americano Clint Eastwood fez depois de ter se consagrado com os spaghetti westerns de Sergio Leone (inclusive brinca com sua imagem de cowboy).

Ele está jovem e bonito, mas nada a vontade fazendo comédia, com trejeitos que não lhe caem bem como o marido que despreza a esposa.

Conclusão: um filme irregular a partir de sua concepção, já que Silvana pode ser exótica e atraente, mas nunca versátil.